Seu Geraldo - Terceira Visita

Como sempre, Solenta e Terezinha foram recebidas pela cuidadora Nazaré com sua tiara de corações. Na floreira do caminho nenhuma rosa aberta, só depois de muito procurar Solenta encontrou alguns princípios de botões a despontar. S. Geraldo já estava para o lado de fora do quarto, na varanda que dá para o quintal, na cadeira de rodas. Solenta apareceu toda animada e saltitante. Nesse intervalo entre a última visita e essa que agora estava acontecendo, Solenta havia recebido uma carta de Creusa, filha de S. Geraldo que ela não teve o prazer de conhecer pessoalmente mas que escreveu para agradecer o trabalho com seu pai e o relato aqui escrito. Nessa carta e nas notícias relatadas por Terezinha, Solenta ficou sabendo que S. Geraldo a chama de Chapeuzinho e que estava aguardando ansioso por uma próxima visita. Por isso tudo, Solenta achava que esse encontro seria radiante como os anteriores, mas não foi bem assim que a coisa aconteceu. S. Geraldo não se mostrou muito empolgado com a presença de Solenta e parecia um tanto distante. Não parecia aborrecido, nem tinha nenhum desconforto físico, pois isso foi perguntado à ele diversas vezes. Ele simplesmente não estava empolgado como das outras vezes. Solenta tentou de tudo, dançar tango, tocar castanholas, fazer toreada... Entregou fotos do encontro anterior e montou a vitrolinha para dessa vez tocar Carlos Gardel nos discos de vinil que conseguiu achar em um sebo. S. Geraldo ficou a maior parte do tempo com a cabeça baixa, mas em alguns momentos ele cantou junto acompanhando o disco e em outros ele cantou sozinho. O ponto alto foi quando ele cantou um tango que havia cantado no encontro anterior, que Solenta não conhecia e não conseguiu localizar para levar para ele. Dessa vez Solenta perguntou se ele sabia o nome da música e ele disse: "mentira mentira." Solenta disse que ia achar esse tango para levar para ele no próximo encontro, mal sabia ela que o nome verdadeiro do tango é Volvió Una Noche e que em um dos discos que ela havia levado tinha essa música. Mas isso ela só foi descobrir depois que já não estava lá.
Outra coisa boa do encontro, além desses sopros de presença forte de S. Geraldo cantando, foi conhecer uma de suas netas, Uirá, que é filha de Creusa, um encanto de pessoa, e também seu genro Luís. Solenta pediu para Uirá entregar uma carta que escreveu para a mãe dela, uma resposta pela carta tão delicada que recebeu.
A carta escrita por Creusa trazia a seguinte frase de Picasso: "há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol." Solenta não tem a menor dúvida de que S. Geraldo é o próprio sol, pena que o dia estava nublado... Mas como "cada dia é um dia", sabemos que amanhã pode dar sol.


Ensaiando um tango

Uirá fotografando Nazaré e S. Geraldo

Volvió Una Noche (Mentira Mentira)
http://www.youtube.com/watch?v=AUzZcRv16lU

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