SEU GERALDO - VOLVER





INTRODUÇÃO
Não posso descrever a visita sem antes dizer um pouco do eco que se instalou após o primeiro encontro com S. Geraldo. Ele me fez adentrar, de corpo e alma,  no universo de Carlos Gardel, que eu conhecia tão pouco. Somente algumas músicas e praticamente nada de sua biografia.  As descobertas foram muitas. Eu não sabia, por exemplo, que a música Volver que dá título a um dos filmes de Almodóvar é dele, pois no filme ela é interpretada pela cantora Estrella Morente. Além da pesquisa que fui tecendo, outras pessoas engrossaram o caldo. A amiga Juliana me encaminhou a letra e a música El dia que me quieras, e a mestramiga Naiza me presenteou com o filme de mesmo nome protagonizado pelo próprio Carlos Gardel. Agora, vez ou outra, me pego cantarolando essa música no trânsito, no banho, arrumando a cozinha... Ela passou a fazer parte da minha vida como parece fazer da de Seu Geraldo.
VOLVER
Solenta adentrou o quarto de seu Geraldo de castanholas em punho. Mesmo sem saber tocar, sabe inventar que sabe, se convence, convence a todos. Estava muito feliz de reencontrá-lo. Ele estava na cadeira de rodas e o quarto pequeno fazia com que, na empolgacão, Solenta fosse esbarrando aqui e acolá. Ao final da dança atrapalhada S. Geraldo falou bem alto: "olé!!! Viva la España!" e Solenta repetia "Viva la España!" E o quarto ficou pequeno para tamanha grandeza. Solenta perguntou se poderiam  sair para o quintal ao lado, que tem uma área mais ampla. Antes S. Geraldo disse: "tenho castanholas iguais a essa, eram de minha mãe." Solenta percebeu em Zilá, a esposa, e Nazaré, a cuidadora, um certo temor de que ele pedisse para pegá-las pois parece que essas castanholas só existem na mémoria de S. Geraldo e não mais como matéria real. Chegando no quintal, S. Geraldo cantou a mesma música do primeiro encontro: "Maria dame la capa, que me voy a torear...." e ao final bradou: "que venga el toro" e Solenta tirou sua grande capa azul e iniciou uma toreada repetindo: "que venga el toro." Corria de um lado para outro toreando: "Olé!" Depois ela entregou o porta-retrato de S. Geraldo mas, como ela não tinha nenhuma foto dos dois juntos, entregou uma foto dela separado. S. Geraldo disse que ia querer deixar a foto sempre bem perto. Solenta ficou bem feliz. Depois ela começou a colocar as músicas que havia escolhido para o encontro. A primeira foi Volver. Para surpresa dela, ele sabia cantá-la inteirinha. E não é uma música simples, é uma letra  longa e complexa que  eles cantaram juntos até o final. S. Geraldo sentenciou: "Carlos Gardel era o melhor do mundo." Depois foi Madreselva, outra música conhecida por Solenta através do cinema. Ela está no filme O Carteiro e o Poeta. Essa S. Geraldo deu a impressão no início de não conhecê-la, mas que nada, foi só a fase de reconhecimento, logo já estava cantando junto. E por último foi El dia que me quieras que S. Geraldo canta com tamanha força que entranha na alma de Solenta quase que como uma comunhão de um passado em comum, que não existiu em realidade mas que é tão forte que ninguém poderia comprovar que realmente não ocorreu. Que solenta conheceu S. Geraldo quando menino, no Brás, quando sua mãe Petra Gil Sancha bailava e tocava castanholas para ele. Quando ele cantava as músicas de Carlos Gardel no cinema "só para passar o tempo" e todos admiravam. Ou quando jovem se deliciava dançando tango.  Solenta realmente sente que foi testemunha viva dessa história. S. Geraldo se emociona, correm lágrimas mas não são de tristeza, talvez nostalgia, ou emoções que não se explicam. Nazaré vem e pergunta: "o véio tá contente?" E ele responde: "felicíssimo." S. Geraldo ainda declamou um poema em espanhol e cantou um tango que Solenta não conhecia. Na despedida, Solenta recebe mais uma benção solene: "que Dios te preserve siempre forte e con esta alegria!"
Que vontade que o tempo se acalmasse e nos permitisse uma estada desatrelada dos ponteiros do relógio.

"Carlos Gardel era o melhor do mundo"
Volver
Madreselva
El dia que me quieras

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