Dona Divina - A alta

agosto 26, 2009

Nessa quarta-feira, depois de duas semanas sem visitas, somente encontros com a equipe do PAD, Solenta se encaminhou para sua primeira alta. Dona Divina teve alta do programa, o que é muito bom pois significa que ela está bem, mas isso também quer dizer que Solenta não mais a visitará. E apesar da visita ter sido uma delícia, divertida e ao mesmo tempo cheia de delicadezas, ela também teve um certo tom de tristeza, sentimento inevitável na maioria das despedidas.

Solenta e Terezinha foram recebidas por Alan, o bisneto de D. Divina. Foi engraçado ter o portão aberto por uma criança tão pequena. Ele não tem mais que 7 anos. Logo chegou D. Elvira, a irmã de 94 anos de D. Divina. Terezinha foi para o quarto e Solenta ainda ficou um pouco na sala com D. Elvira e, ao mesmo tempo em que manifestava a satisfação de reencontrá-la, sempre bem de saúde, ouvia, vindas do quarto, as manifestações de satisfação de D. Divina ao ver Terezinha. Quando entrou no quarto, recebeu o mesmo tratamento afetuoso. Que coisa boa que é nadar nesses mares de bem-querer. D. Divina, como de costume, agradeceu muito Solenta e Terezinha dizendo que elas fazem muito bem ao seu coração, disse também que entende que elas precisam visitar outras pessoas, pessoas que estão muito pior que ela, mas que não gostaria de deixar de receber a visita delas nunca. Essa fala deixa nosso coração ainda mais apertado. Nesse momento Solenta disse: "a senhora tem um canto todo especial aqui no meu coração, vai me acompanhar por toda a minha vida". Solenta entregou algumas fotos que havia levado, fotos tiradas na visita anterior. D. Divina achou que as fotos eram só para ela ver e ficou super contente quando Solenta disse que eram presente. D. Elvira disse que D. Divina todo dia usa a caneca que ganhou de Solenta. Disse também que ela está constantemente falando de Solenta e Terezinha, sempre na expectativa de uma nova visita. Solenta pediu um local com tomada para ligar sua vitrolinha e colocar para tocar as músicas que levou para ela. D. Elvira disse que a tomada ficava na parede embaixo da cama e lá vai Solenta se rastejando pelo chão, se enfiando embaixo da cama para ligar a extensão. D. Elvira disse: "não quer que eu chamo o menino para ligar pra você?" Mas Solenta já estava lá, meio entalada, adorando ver o mundo de outra perspectiva enquanto Terezinha aproveitava para fazer perguntas para D. Divina. Extensão ligada, vitrolinha armada, Solenta começou com a música que sempre dedica à D. Divina, A Rosa de Pixinguinha, pois traz em sua letra a palavra divina que Solenta aproveita para transformá-la em Divina com d maiúsculo. Na outra visita elas haviam cantado, agora ela podia ouvir a música na voz de Marisa Monte. Enquanto ouviam, D. Divina repetia: "que moda bonita...". Ao final, Solenta disse que, quando pensava em D. Divina, outras músicas vinham a sua cabeça, que ela havia levado algumas e perguntou se poderia colocar para ver se ela gostava. Ela novamente disse que Solenta sempre arrumava umas modas muito bonitas e que, claro, ela podia colocar. A próxima música foi Romaria de Renato Teixeira, na voz de Elis Regina. A primeira observação de D. divina ao olhar para a capa do disco foi: "essa moça morreu tão jovem...". Depois ela percebeu que sabia cantar o refrão e soltou a voz:

"Sou caipira, pirapora

Nossa Senhora de Aparecida

Ilumina a mina escura e funda

O trem da minha vida"

Solenta também cantou junto. A próxima música foi Lua Branca, de Chiquinha Gonzaga. D. Divina e D. Elvira adoraram a música e então Solenta já aproveitou para emendar com outra música do mesmo disco: "agora uma mais animada! Ó Abre Alas." E aí improvisaram um bailinho de carnaval. Dona Divina dançou com os braços e cabeça, D. Elvira, morrendo de vergonha, fez um tímido balancinho de corpo e Solenta alternava entre ora pegar nas mãos de cada uma e ora circular por todo o quarto balançando seu lenço de bolinhas, se sentindo em um antigo baile de carnaval.

D. Elvira admirava: "como ela dança bonito! Dança direitinho..." Solenta perguntou qual música elas tinham gostado mais. D. Elvira disse: "gostei daquela que fala de Nossa Senhora de Aparecida" e D. Divina disse que gostou de todas mas que "a mais linda é aquela que fala no meu nome." Chegando a hora da despedida, todas elas, D. Divina, D. Elvira, Terezinha e Solenta se agradeceram muito por tudo que viveram e se desejaram todo o bem que possa haver nesse mundo. Antes de ir embora, Solenta pediu para tirar uma foto com todos e lá vieram as crianças se juntar a elas. Abraços e despedidas, corações enternecidos e lá fomos nós embora. E mal saímos e a saudade já apontou no peito.