SEXTO DIA - Dona Divina




Ao chegarmos na frente da casa  fomos recepcionadas  por Graziela, a neta  de 17 anos que já estava com o portão aberto a nossa espera. Dona Divina tem 79 anos e está acamada em consequência de um AVC.
A casa é bem populosa mas  tem uma tranquilidade surpreendente, toda a família, incluindo Natan, de 8 anos, age sempre de forma delicada e respeitosa. Depois de sermos recebidas por Graziela,  foi brotando gente de todo canto. A neta Daniela, com um nenê de um mês no colo, o bisneto Natan, a irmã Elvira de 94, muito forte e lúcida e Claudinei, que talvez seja neto de Dona Divina. 
O ENCONTRO

Dona Divina não parece ter a idade que tem e ninguém diria que sofre de graves problemas de saúde. Está sentada na cama, encostada na cabeceira, como quem simplesmente torceu o tornozelo  e está obrigada a receber as visitas no quarto. De cara se abriu por completo para o encontro. A delícia de qualquer palhaço, essas pessoas que só falam sim, que se entregam, que entram no jogo sem questionar...
Admiração mútua. Solenta admirava aquela linda criatura, sentada encostada na cama, vestida numa camisola cor pessêgo, coberta com uma pequena manta azul claro. E dona Divina admirava a vestimenta de Solenta, suas cores, seus detalhes. Logo no início do encontro, Solenta disse que tinha uma música para ela e começou a cantar: "tu és DIVINA e graciosa, estátua majestosa do amor, por Deus esculturada..." E para variar esqueceu o resto da letra. Ela não conhecia a música  de Pixinguinha e adorou. Depois Solenta pediu para fotografar o painel:


"a senhora além de Divina está protegida por isso tudo de Santo!"
Divina admirou cada instrumento mostrado por Solenta, cantou junto cantigas de roda, com uma voz linda e suave. Natan ficou pelos arredores e só se manifestava quando era incluído na brincadeira. Cantaram juntas a "Oração de São Francisco", cuja letra ela tinha lá de seu lado. Num determinado momento, Solenta elogiou as mãos de Dona divina e ela falou: "que nada, mãos de velha." E Solenta disse: "mãos lindas!", fotografou-as e mostrou para ela, que se surpreendeu. "Não é que ficaram bonitas mesmo!"

lindas mãos!


Aí começou a "farra fotográfica."  A mão dela com a mão de Solenta, da Solenta com a de Natan, de Natan com a dela, dela com a do bebê...
Que pena que o relógio é implacável e mais uma partida se anunciou. Divina pediu para que Solenta voltasse logo a visitá-la. Ai que coisa boa!
E na despedida, a surpresa. Solenta não tinha muita noção de como as outras pessoas da casa tinham recebido sua visita, mas teve certeza da satisfação de todos quando eles  acompanharam ela e Terezinha até a frente da casa e se espremeram na frente do portão acenando até o carro sumir da vista. 

Comentários

  1. Irmã querida,

    Sempre mais e mais aumenta a grande admiração e orgulho que tenho de vc.
    Percebo o blog a cada post que passa mais lindo e formatado.
    E as narrativas... sinceras e envolventes....!

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