Seu Fernando - O retorno
Seu Fernando é o primeiro paciente que recebe o retorno de Solenta. A visita foi acompanhada pela enfermeira Ivy. No apartamento estavam Dona Maria, esposa e Fátima, a cuidadora. O filho Daniel não se encontrava. A recuperação de S. Fernando continua excelente.
O REENCONTRO
Quem abriu a porta foi Dona Maria, que não estava na visita anterior, e Solenta ficou muito feliz em conhecê-la, abraçou, beijou... S. Fernando se encontrava deitado no sofá, aconchegado embaixo da coberta, exatamente como da vez anterior. Seria preciso ser poeta para conseguir traduzir em palavras o que são os encontros com ele. É que cada encontro é poesia pura, assim como poesia é tudo que sai de sua boca. Solenta estava muito feliz em reencontrá-lo e ao que tudo indica a recíproca era verdadeira. De cara, ele retomou as palavras do encontro anterior: "PAZ, SAÚDE E ALEGRIA", e depois acrescentou mais duas: "AMOR E AMIZADE". Ele pronuncia essas palavras com tanta inteireza que é como se elas ganhassem vida e se materializassem ali na nossa frente.
Solenta estava empolgada em dizer que dessa vez tinha trazido três máquinas e oito pilhas e que poderiam fotografar e filmar o encontro o quanto quisessem. Depois que a enfermeira Ivy fez suas avaliações e recomendações, Solenta entregou o presente que havia levado para ele. Um porta-retrato, com a moldura pintada por ela, com as cores de seu figurino e com a foto que haviam tirado no encontro anterior. S. Fernando olhou o porta retrato demoradamente, profundamente, e ao levantar a cabeça pronunciou solenemente a decisão que acabava de tomar "vou mandar esse retrato para Portugal, para minha irmã!" Solenta ficou numa felicidade desmedida: "Vou conhecer Portugal? Vamos viajar juntinhos dentro de um envelope?" "Sim, vais conhecer minha terra!", acrescentou ele. Solenta finalmente conseguiu aprender o nome da terra dele: Celorico da Beira - Freguesia de Maçal do Chão. Ele explicou que freguesias são equivalentes aos nossos bairros. Então ele olhou muito sério para Solenta e perguntou: "Posso fazer uma pergunta?" Solenta até engoliu seco com a seriedade da expressão: "Manda ver!" E ele indagou: "Qual a sua descendência?" Essa foi fácil responder: "Portuguesa, italiana, indígena..." E ele concordando com a cabeça, como quem está fazendo uma descoberta, disse que ela era muito parecida com a família Bragança. Solenta deu um pulo: "Bragança???? A família real? O senhor está dizendo que eu tenho sangue real?" E ele acenava com a cabeça, concordando plenamente. Depois foi a hora de Solenta mostrar a segunda surpresa que havia levado para ele: o clarinete vermelho. Ela montou peça por peça com muito cuidado e na hora de tocar fez com que todos respirassem fundo. Antes de tocar declarou: "Para um homem que trabalhou em caminho de ferro, uma música de trem!" Começou a tocar Trenzinho Caipira de Heitor Villa-Lobos, com tanta concentração que estava até soando bonito. Dona Maria se emocionou, começou a chorar e até saiu da sala. Chorar é bom, alivia a alma, ajuda a circular ar ar... Solenta se atrapalhou um pouco nas notas e tocou de novo para chegar até o fim. Depois foi a vez de outra música com o mesmo tema. Trem das Onze de Adoniran Barbosa. Solenta convocou Fátima para segurar a partitura e tocou a primeira parte da música. Fátima ia cantando junto. E então, na segunda parte, Solenta parou de tocar e se juntou ao coro de Fátima:
Além disso mulher
Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único
Tenho minha casa para olhar
E eu não posso ficar.
Foi uma animação total. Fátima tem uma voz linda. Solenta desmontou e guardou o clarinete e na sequência ainda teve o tiro-liro-liro. Dessa vez foi S. Fernando que cantou:
Lá em cima está o tiro-liro-lito
Cá embaixo está o tiro-liro-ló
Juntaram-se os dois na esquina
Tocar a concertina, dançar do solidó.
O encontro seguiu com muito mais maravilhas. Entre elas, uma fala de S. Fernando que foi uma das declarações mais lindas que Solenta já ouviu: "em que momento da evolução você surgiu? Você é uma obra divina!" Ele conseguiu juntar evolucionismo com criacionismo num elogio sem igual. E foram muitos outros elogios mútuos. Fátima nos serviu um delicioso suco de maracujá com cenoura. Um pouco antes da despedida Solenta pediu um papel para deixar um bilhete para o Daniel. Aliás, Solenta não parava de dizer que estava sentindo a falta dele. Ivy deu duas folhas de sua cadernetinha para Solenta. Em uma das folhas, Solenta escreveu o bilhete e, na outra, desenhou um coração que entregou para S. Fernando. Pena que nesse momento não havia um gravador para registrar as palavras exatas pronunciadas por ele, mas o sentido ainda ecoa em Solenta: "aquele desenho simboliza o coração dele mesmo que ela lhe está devolvendo, curado e alegre, que ele vai guardar e será a primeira coisa que ele vai mostrar a ela quando ela voltar na próxima visita." Com tantas declarações e desejos é chegada a hora de partir. Ivy se lembra da música Despedida, de Roberto Carlos. Ela, Solenta e Fátima cantam a música...
Seu Fernando ainda se levantou com a ajuda de Fátima para o aceno de despedida.
Seu Fernando no aceno de despedida com a fita vermelha com que
Solenta lhe presenteou, transformada em cachecol
Maria, Fernando, Solenta e Fátima espremidos no sofá
Mais um encontro maravilhoso!
Trenzinho Caipira
http://www.youtube.com/watch?v=gDr2Z7NjTv8&feature=related
Despedida de Roberto Carlos
http://www.youtube.com/watch?v=i9X6MYSqwbs
E mais abaixo alguns filminhos que fizemos.
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