Seu Juvandir

Seu Juvandir não é paciente do PAD. PAD significa Programa de Assistência Domiciliária e seu Juvandir não tem domicílio, não tem casa. Dorme nas ruas de São Paulo. Solenta o encontrou no Parque da Água Branca na Saída de Palhaços organizada por Silvia Leblon em comemoração aos 80 anos do parque e aos 10 anos da Na Compania dos Anjos. Mais de 40 palhaços reunidos em um grande cortejo pelo parque. Solenta se sentiu atraída por aquele senhor sentado sozinho com uma bengala ao lado e com um olhar distante. Trajava uma roupa suja e maltratada, uma sandália bem aberta que expunha seus pés com grandes rachaduras e dedos carcomidos pela falta de bom trato. Solenta sentou-se ao lado dele e puxou assunto. Apresentou palhaços que passavam e quis saber dele. Aos sessenta anos de idade, nunca encontrou um xará. Veio da Paraíba, de "uma terra muito quente", há 23 anos. A bengala é por causa de um machucado na perna, foi atropelado parado. Sim, tinha o aspecto de quem toma umas pingas para aguentar o frio das ruas. O frio da temperatura baixa, o frio de ser invisível em um mundo em que sua vida parece não valer nada. Mas às vezes dorme em um abrigo, tem café quentinho de manhã. Tem uma cama e um cobertor. Com o frio a perna dói mais, por isso estava ali, sentado, tentando espantar, com o pensamento, as nuvens que encobriam o sol que poderia aquecer seu corpo. Ali esses dois seres tiveram um breve encontro. Na despedida, Seu Juvandir, com a voz embargada, disse algo que Solenta não conseguiu entender e então pediu para que ele repetisse. E ele, com uma voz que quase não saía, disse:"agradeço muito a atenção que você me deu". Solenta entendeu profundamente o que ele quis dizer, afinal atenção sincera não é coisa fácil de se encontrar. E um encontro como esse nos faz ter mais consciência de nossa transitoriedade.

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