MAGDALENA - O RETORNO


Ao chegarmos à frente da casa nos deparamos com D. Magdalena, toda agasalhada, sentada de frente ao jardim. tomando um solzinho tímido e morno. Em tempos de dormência, apenas uma pequena rosa despontava do grande roseiral. Pequena e delicada como D. Magdalena. Ela ficou bem feliz de nos ver e nos perguntou se gostaríamos de entrar. Solenta disse que só se ela fizesse questão, pois ela preferia ficar ali "céu a aberto."  O filho dela, que estava dentro da casa, também veio nos receber e, quando Solenta o chamou de Deílson, ele corrigiu: "Deocleir." Solenta ficou pasma por ter confundido  o nome dele por muito tempo. Ele disse que não gosta muito do nome e que todos o chamam de Cleir. Logo no começo do encontro chegaram João e Josefa, que haviam ido levar a comunhão para D. Magdalena. Como tinham outras casas para ir lá por perto, resolveram voltar mais tarde. Mas depois isso aconteceu de novo, pois quando retornaram, Solenta ainda estava pelo meio do encontro. Solenta entregou o presente que levou para D.Magdalena. Nesse momento, Cleir disse: "que coincidência, ela acabou de fazer aniversário, 91 anos." Fazia apenas dois dias. Abrindo a caixinha branca envolta em fita vermelha, D. Magdalena pôde ver uma caneca que, só depois, com um olhar mais apurado percebeu: estampada nela, estava a reprodução de uma foto em que apareciam ela e Solenta. Do outro lado da caneca, um trecho da música que Solenta havia cantado para ela: " Madalena, Madalena, você é meu bem querer..." Cleir falou: "olha que bom para você tomar seu café." Terezinha fotografou a caneca de todos os ângulos e D. Magdalena agradeceu o presente. Cleir contou a história de uma celebração japonesa que tem em Registro, no Vale do ribeira, em que as pessoas colocam lanternas no rio, em homenagem aos mortos, e que depois fazem uma festa em que comem, cantam, dançam. Solenta ficou admirada com a imagem linda que se fez em sua mente com as lanterninhas de papel descendo rio abaixo....  Então, Solenta apresentou seu estimado clarinete vermelho para eles. Cleir disse que um tio seu, cunhado de D. Magdalena, também descendente de italianos, tocava vários instrumentos de sopro, entre eles, flauta e sax. Ele era aviador da esquadrilha da fumaça e Cleir e D. Magdalena falaram dele com muito apreço. Terezinha e Cleir entraram na casa para anotações de praxe e Solenta montou seu clarinete para tocar a música surpresa para ela, uma marchinha que ela descobriu que também citava o nome dela. Com o clarinete montado, Solenta já foi se desculpando por não tocar muito bem e delarou: "essa música é uma homenagem ao encontro da Senhora com S. Miguel, já que a Senhora contou que se conheceram em um baile de carnaval." E começou a tocar a música Pastorinhas, de Noel Rosa. Depois de tocar a primeira parte, cantou a segunda
Linda pastora morena da cor de madalena
Tu não tens pena de mim
  Que vivo tonto com o teu olhar
Linda criança tu não me sais da lembrança
Meu coração não se cansa 
De sempre sempre te amar
Ao final da música ela observou: "tá vendo, você conseguiu." Solenta queria que elas cantassem outras marchinhas, ela falava que não lembrava de nenhuma, mas era só Solenta começar que ela lembrava muito bem. E assim foi..."bandeira branca amor, não posso mais....", "oh abre alas que eu quero passar..." E ela observou que essa música tinha sido composta por uma mulher, "a primeira compositora do Brasil."  D. Madalena canta em um volume bem baixo, mas sua voz é bem aguda, "sopraníssima." D. Magdalena, assim como seu Luís, estava contente com a visita, mas deixava transparecer uma certa melancolia. Solenta adora o frio mas tem que concordar que a maioria das pessoas parecem mais tristes em dias nos quais o sol não consegue aquecer os corpos nem tingir o céu de azul exuberante. Com o cair da tarde, o frio se fez mais intenso e D. Magdalena quis entrar, já era mesmo hora de ir embora, e João e Josefa já estavam voltando pela terceira vez para lhe dar a comunhão. Solenta acompanhou-a até a sala e lá deu um abraço gostoso. Até a próxima!
D. Magdalena, Solenta e Cleir

Solenta lendo a musica escrita na caneca
 
Sobre a festa no Vale do Ribeira
http://www.japao100.com.br/agenda/41/

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