S. Luís Tavares - O retorno
Tocamos a campainha algumas vezes e de dentro só silêncio. Então Solenta gritou "ô de casa!", ao que uma voz respondeu: "pode entrar." São muitos degraus até chegar à casa. D. Inês, a esposa de S. Luís, apareceu lá no alto, na frente da porta da sala. Abraço e beijo caloroso, foi uma boa recepção. Alessandra, a cuidadora, sempre sorridente. S. Luis ficou bem feliz ao ver Solenta e mais feliz ainda ao ver Terezinha com seu novo corte de cabelo que ele não cansou de elogiar até o final do encontro. "Tá bonita, ficou jovem, moça." Solenta, D. Inês e Alessandra fizeram coro concordando com ele. D. Inês começou a declamar: "Terezinha de Jesus, de uma queda foi ao chão..." e Solenta puxou a canção que elas cantaram juntas.
"Terezinha de Jesus, de uma queda foi ao chão.
Acudiram três cavaleiros,
todos três, chapéu na mão.
O primeiro foi seu pai,
o segundo seu irmão,
o terceiro foi aquele que Tereza deu a mão."
Foi um afago no coração assistir D. Inês cantando. Ela nos surrpreendeu bastante dessa vez. Tinha uma presença calma e acolhedora. Solenta presenteou S. Luiz com o porta-retrato que trazia a foto deles, tirada no último encontro. S. Luís também se achou "bonito, novo", na foto. Ao contrário do que repetiu várias vezes durante nossa estada lá, que estava velho, que bom é quando se é jovem. D. Inês percebeu que a madeirinha de colocar atrás do porta retrato para mantê-lo em pé não estava encaixando direito, que Terezinha prontamente se ofereceu para consertar. Foi a hora de Solenta colocar as músicas que havia levado para ele. Começou com Bate o Pé, de Roberto Leal. Tentou dançar, mas o espaço estava reduzido e acabou reduzindo seus gestos pois não sentiu em S. Luís nenhuma grande empolgação. A pilha do alto-falante estava acabando e Alessandra ajudou Solenta a encontrar uma tomada para continuarem o baile. Veio ainda a música Arrebita e Uma casa Portuguesa. S. Luís disse que nunca dançava, só trabalhava, trabalhava e trabalhava. Solenta foi fazendo perguntas para ele sobre sua história e seu passado. S. Luís fala bem baixinho e às vezes é difícil entender o que ele quer dizer. Solenta sempre pedia a ajuda de Alessandra, que traduzia com satisfação, e quando ela também não entedia, falava: "eu também não entendi" e lhe fazia perguntas para chegar à resposta. Mas S. Luís, apesar de gostar da visita e de elogiar até mesmo a roupa de Solenta, estava um tanto triste, talvez cansado por estar há tanto tempo na condição em que se encontra. Chegou mesmo a perguntar a Terezinha se ela não podia "arrumar um remédio para acabar com essa doença." Para as pessoas que são saudáveis e tem autonomia de ir e vir, é difícil sequer imaginar o sofrimento de quem convive com dores e com a impossibilidade de mobilidade. Como seria bom um remédio que pudesse curar todos os males! Ao final do encontro, ao ser indagado se conhecia a cantora Amália Rodrigues, quem respondeu rapidamente foi D. Inês dizendo que ele adora ."Ela canta fados maravilhosos." Solenta lamentou não ter levado nenhuma música dela e D. Inês disse: "traz na próxima visita." Bom ouvir isso. Significa que D. Inês sinceramente espera uma próxima visita. Solenta abraçou e beijou a todos e foi embora feliz pois, apesar da aparente tristeza de S. Luíz, ela se sentiu muito bem acolhida.
S. Luís e Solenta sorriem para Terezinha
Arrebita com Roberto Leal
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