S. PAULO - O RETORNO
Na varanda da casa, nos deparamos com um varal repleto de roupas de cama tentando secar. Há dias que chove sem trégua na cidade de São Paulo, até mesmo Solenta, que adora frio e chuva, nesse dia esparramou para os quatro cantos que já estava enjoada desse tempo. As roupas não secam, os ossos resfriam e o corpo fica com uma sensação de sem lugar. Quem nos abriu o portão foi Fabiane, uma moça que ajuda Irene, a esposa. Fabiane não estava na primeira visita e Solenta não a conhecia. Ela já foi logo falando que Solenta não iria fazer nenhum sucesso com S. Paulo, que ele só tinha olhos para Terezinha. E falou tão enfaticamente isso e repetiu tantas vezes que não houve mesmo forma de ser diferente. Como descrevi no primeiro relato, S. Paulo não se expressa verbalmente, só com movimentos de cabeça e olhos e, com a boca, só o beijo que manda quando solicitado. Irene é extremamente dedicada e amorosa. S. Paulo acompanhava Terezinha com o olhar o tempo todo. E Solenta tinha a impressão de que não era apenas porque Terezinha estava tirando fotos. A sensação era de que ele queria dizer algo. Fabiane disse que, se Terezinha se vestisse de palhaça, ia fazer muito sucesso. Inventamos até a um nome para a dupla: "Solenta e Sogueixa." Irene perguntou se Solenta tinha decorado a música que ela ficou de decorar e Solenta disse que não a aprendeu inteira mas que levou a música para cantarem junto. Solenta pegou seu pequeno ipod com suas minúsculas caixinhas de som e colocou a música É O Amor de Zezé Di Camargo e Luciano. Em alguns trechos até conseguia cantar junto, principalmente no refrão, mas em outros ficava meio perdida. Solenta confessou que perdeu o CD que tinha a letra e que queria ter levado para se guiar. Foi uma pena essa perda pois Solenta iria deixar o CD de presente para eles. Mas Solenta colocou o forró Isso Aqui Tá Bom Demais e tirou Irene para dançar para ver se passava no teste do arrasta pé. S. Paulo não parecia muito interessado, tanto que a dupla nem chegou até o final da música, pararam antes. Solenta foi ficando meio sem saber como contentar S. Paulo. Irene pediu a música Detalhes, mas Solenta não tinha e então colocou Emoções. S. Paulo parece ter ficado emocionado mas não é possível ter certeza. Então, Solenta entregou o porta-retrato com a foto em que aparecia ela, S. Paulo e Irene e uma outra foto em que eles estavam com Terezinha. Irene mostrou a foto para S. Paulo. Ele olhava atentamente para a foto. Solenta sentiu que não estava conseguindo saber o que seria bom para ele. Talvez ele só quisesse ficar em silêncio, e Solenta na maior parte do tempo é barulhenta demais. Ela tentou se aquietar e só observar. E Fabiane voltava e dizia que ela tinha avisado que Solenta não faria nenhum sucesso. Sucesso? Solenta só queria entender o que de bom poderia proporcionar a ele. Como ele parecia cansado, resolvemos que a visita estava se encerrando. Irene fechou a cortina, escureceu o quarto e, na despedida, quando Solenta jogou um beijo, ele retribuiu com um beijo espontâneo, sem que fosse necessário pedir. Só assim Solenta pôde saber que, ao menos, ela não era indesejada. Desceram para a sala onde as esperava um chá, bolachas e morangos gigantes. Solenta e Terezinha brincaram de posar para foto abocanhando um morango. Depois de tomarem um chá e de Irene receber algumas orientações por parte de Terezinha, nos despedimos. Dessa visita Solenta não foi embora nem leve nem feliz, sentiu como se não tivesse conseguido abrir uma janela.
Irene e seu "mozinho"(amorzinho)
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