D. Adelaide - Primeira Visita

A partir de hoje começaremos mais uma leva de visitas com novos pacientes, e paciente novo é sempre uma porta que se abre para um novo universo. Solenta, ao mesmo tempo que tem o coração cheio de expectativas, também o tem como uma página em branco para que possa receber o que está por vir. Terezinha e Solenta foram levadas pelo motorista Roberto Serafim, "que sabe tudo do começo ao fim", segundo as palavras dele. Abro aqui um parênteses para dizer que hoje Solenta também ficou conhecendo o caminho que leva até a sala onde ficam os motoristas pois planeja um dia ir lá para um visita surpresa e agradecer pela maravilha que é ser conduzida por eles até as casas dos pacientes. Fecho parênteses. Quando chegamos à frente da casa, Solenta de cara avistou uma dessas bonecas chamadas de "namoradeiras" que ficam debruçadas na janela, toda colorida e enfeitada, vestida de vermelho. Eis que abre a porta da casa a filha de Dona Adelaide, Cidoca, que era a própria boneca com vida. Linda, linda, também vestida de vermelho, toda enfeitada e sorridente. Dona Adelaide tem 79 anos (parece bem menos), passou por cirurgias no fêmur e está acamada, por enquanto, sem possibilidades de caminhar.
O ENCONTRO
O primeiro olhar das duas foi de puro encantamento. Dona Adelaide é uma delicadeza em pessoa e o encontro foi dessas delícias que fazem bem a alma.
Ela e Cidoca mostraram, felizes, a Terezinha, feridas cicatrizadas e outras em processo acelerado de cicatrização. No rosto das duas, estampado o orgulho de quem realiza uma tarefa bem feita. Solenta admirava aquele contentamento. Depois dos beijos e apresentações, a primeira observação de D. Adelaide para Solenta foi de elogio ao seu chapéu. Solenta, então, prontamente, tirou-o da cabeça e fez a demonstração de que ele é mais que um chapéu, ele é também um leque que abre e fecha e é muito bom para abanar em dias de calor. D. Adelaide disse que adora leque, que sente muito calor à noite mas que o dela estava quebrado. Cidoca achou que ela estava insinuando que queria que Solenta a presenteasse com o dela, mas ela disse que de jeito nenhum, estava somente comentando. Cidoca disse que já havia consertado o dela, Solenta o avistou na mesinha ao lado da cama e pegou-o para testar. Realmente, ele estava funcionando direitinho. Na casa estava também uma neta de D. Adelaide, Ariana, uma presença suave, atenta e amorosa. E como Terezinha e Solenta adoram fotografar, fizeram uma pequena sessão de registros.
Depois, Terezinha foi para cozinha com Cidoca, Solenta ficou sozinha com D. Adelaide e iniciou sua apresentação de instrumentos fantásticos. O primeiro a ser mostrado foi o rói-roi. Ela adorou, queria saber como era feito e disse: "cada coisa que as pessoas inventam... que maravilha!" Mais tarde, ela ainda iria se lembrar que já conhecia algo parecido, encontrado na Itália, algo que seu avô possuía. Ela até falou o nome que agora não consigo me lembrar. Depois Solenta apresentou a caixinha de música e ela falou: "musiquinha..." Falou isso num misto de perplexidade e admiração, e perguntou: "mas o que é isso?" Quando Solenta disse que era uma "caixinha de música", ela falou: "quanto coisa tem nesse mundo pra gente conhecer." Foi a deixa para Solenta iniciar com ela uma deliciosa conversa sobre sermos eternos aprendizes e sobre um pouco da história de vida dela. Onde nasceu, onde morou, onde conheceu seu marido, com quem foi casada por cinquenta e dois anos, e o quanto ele era bom. Mostrou as alianças que ainda conserva no dedo anelar da mão esquerda. Contou também que há pouco tempo, com a ajuda do genro, reencontrou uma irmã que não via há quarenta e cinco anos. Pura emoção. E o encontro seguiu assim intermeado de histórias e apresentações. Quando D. Adelaide gargalhava, levava a mão à boca. Solenta achou que esse era um gesto de timidez, mas ela contou que, na verdade, estava com uma grande afta que a incomodava. Logo, Terezinha, Cidoca e Ariana vieram se juntar a elas e aí foi uma festa. Cidoca queria conhecer todos os instrumentos de Solenta e também foi buscar um seu. Fizeram uma boa bagunça e como Solenta já havia descoberto que o cantor predileto de D. Adelaide é Martinho da Vila, foi logo puxando o samba "Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza prá lá, canta forte, canta alto que a vida vai melhorar..." Foi uma delícia! Cidoca pediu para D. Adelaide entregar o presente que ela havia feito para Terezinha. Solenta foi registrando tudo. O presente era um primor de esmero, desde a embalagem até seu conteúdo. Cidoca transforma simples sacolinhas pláticas em embalagens lindíssimas. Com aplicações de tecido cobre os inscritos das sacolas que passam a ter uma "vida própria". O conteúdo? Vocês verão na foto. Infelizmente, a hora de ir embora chega e quando o encontro é muito bom, as despedidas sempre levam um tempo. Queremos sempre dizer, fazer mais uma coisinha. Solenta beijou as mãos de D. Adelaide e elogiou seu perfume e maciez. Cidoca disse que havia quebrado um vidro de colônia no quarto, mas o perfume que Solenta sentia vinha mesmo de D. Adelaide. Era o encontro da colônia com a pele macia e suave. Terezinha deu um abraço tão gostoso em D. Adelaide que Solenta teve que fazer uma nova despedida também com o aconchego de um abraço. Se despediram de Cidoca e Ariana que as acompanharam até o portão. Acenos dos dois lados e Solenta parte se sentindo fortalecida e alimentada.


Solenta, D. Adelaide, Ariana e Cidoca



Cidoca e Solenta improvisando um batuque legal



Terezinha e seu lindo presente

Matinho da Vila cantando Canta Canta, Minha Gente
http://www.youtube.com/watch?v=2uT8YAh7wmQ&feature=related

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