SEU SATURNINO - TERCEIRA VISITA

Lá vamos nós para mais uma visita ao sábio Saturnino. Dessa vez, Solenta e Terezinha estavam acompanhadas de Viviana, estudante do último ano de enfermagem que está fazendo estágio no PAD. Quem nos abriu o portão foi um dos netos e, na cozinha, Solenta foi apresentada a dois dos filhos de S. Saturnino: Olímpio e Marcos. Quando subimos para o quarto, Solenta esperou Terezinha entrar para apresentar Viviana e só depois apareceu para mais um encontro tão aguardado por ela. S. Saturnino logo sussurou lindas palavras de satisfação pelo reencontro com Solenta, e ela verbalizou o prazer de revê-lo. Depois Solenta pegou um pequeno gravador e anunciou que dessa vez estava preparada para guardar todas as coisas bonitas e sábias que ele costuma dizer. Benê, a esposa, que dessa vez estava de cama, deitada ao lado dele, disse: "mas hoje ele não está muito inspirado não." Solenta, discordando, disse: "mas ele já falou tanta coisa bonita aqui." E Benê disse: "ele ainda não falou nada." Terezinha interveio: "falou, no ouvido dela." Benê brincou: "tá traindo nós..." E S. Saturnino completou: "perdoai, elas não sabem o que dizem." D. Benê tem sempre, nos encontros, um tanto de admiração, com pitadas de ciúmes em relação a ligação estabelecida por S. Saturnino e Solenta. Isso só faz aumentar o respeito que Solenta tem por D. Benê ao perceber o grande amor que ela sente por ele. Solenta começou a montar a vitrolinha e dessa vez deu os discos na mão de S. Saturnino para que ele escolhesse as músicas. Começamos com Benito di Paula com Charlie Brown e Solenta frisava bem o refrão "Meu amigo Charlie Brown..." como se estive cantando "Meu amigo Saturnino..." Depois foi a música O Ébrio, na voz de Vicente Celestino. S. Saturnino ouviu a música inteira, quase inteira, de olhos fechados, e Solenta ia fazendo um ventinho nele com seu lenço vermelho de bolinhas brancas. Finalizamos com o cantor preferido dele, Dorival Caymmi, e ele escolheu a música É Doce Morrer no Mar. Mais uma vez ele fechou os olhos e em alguns trechos da música sua voz saía com dificuldade, mas muito emocionada. Ao final da música, uma lágrima escorria de seu olho esquerdo. Solenta disse "essa é linda, né?" E ele respondeu: "é, me lembra dos velhos tempos, quando eu era jovem. Agora eu estou com o pé na cova?" Solenta observou: "ué, mas cova não é aquele buraco que a gente faz pra plantar árvores, põe adubozinho no fundo?" E ele falou: "o meu é diferente, bota o caixão lá e cobre de terra..." Solenta falou: "um dia... um dia..." E Benê completou: "um dia todos nós vamos". Sim, todos sabemos que caminhamos para a morte mas, é claro que S. Saturnino, na condição em que se encontra, a sente se aproximando e a cada encontro toca nesse assunto com mais frequência. Solenta entregou a caneca que levou para ele e ele, depois de abrir e agradecer, sempre com palavras requintadas e humoradas, entregou para Benê olhar e ela, admirada, falou: "tu não viu quem tava nela. Vê quem tá nela!" Quando S. saturnino pegou a caneca e se viu estampado ao lado de Solenta, disse: "oh nêgo safado!" Foi uma risaiada geral. Solenta disse que, a partir de agora, eles vão poder tomar café juntos todo dia e ele disse: "só os importantes..." Solenta completou: "só a diretoria." S. Saturnino aproveitou o gancho dos importantes para contar um pouco de pessoas que foram importantes na sua formação e na sua história de vida. Depois falou de dois sonhos que teve na vida e que não foram realizados. Um deles era de ser piloto de avião, sonho da mocidade que ele não teve como concretizar, e o outro de ser diplomata. Solenta disse que ele poderia ir para qualquer lugar do planeta, que ele seria um bom diplomata. S. Saturnino falou de altos e baixos de sua vida. Depois foi a vez de Benê tomar conta do encontro. Solenta puxou um parabéns a você para ela, pois ela havia feito aniversário na sexta-feira anterior, elogiou sua pele de menina de 20 anos, e ficou sabendo que eles são casados há mais de 50 anos. Solenta, Terezinha e Viviana ganharam balas de hortelã, e ouviram outras histórias mais. A hora de ir embora chegou e com ela mais uma despedida e muitos agradecimentos pela possibilidade de partilhar aqueles momentos com os dois. No caminho de volta para o hospital, o motorista Sandro disse que conhecia o S. Saturnino, que um dia levou-o de volta para casa e que havia achado que ele era uma pessoa muito especial, muito inteligente e que tinha sempre uma idéia muito exata e sábia para as coisas que conversaram. Solenta pensou que essa fala só viria confirmar que, realmente, ele teria sido um excelente diplomata: sábio, generoso e bem humorado.




Escolhendo as músicas

Benito di Paula - Charlie Brown
http://www.youtube.com/watch?v=CEemrSfhlPw



SATURNINO TAMBORILANDO OS DEDOS

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