D. Nair - Primeira Visita


Quando chegaram, Solenta sentiu como se estivesse diante de uma casa típica do interior. Portão baixo, com um telhado como os de desenho de casinhas feito por crianças ou por adultos que desenham como criança. Quando Marli, a filha e cuidadora de D. Nair apareceu, Terezinha apresentou Solenta. A expressão dela foi de surpresa boa. O motorista Wilson disse que estava deixando lá uma encomenda (Solenta) para passar uma semana.
D. Nair tem 83 anos e está acamada em decorrência de um derrame. Na sala estavam Alice costurando ou bordando algo e um carrinho de bebê no qual dormia Bia, uma pequena mestiça de 10 meses que é cuidada, com muito amor, por Marli, enquanto a mãe trabalha.
O ENCONTRO
Quando Solenta e Terezinha entraram no quarto, D. Nair estava deitada na cama e parecia estar acordando de um sono profundo. Marli disse: "olha quem veio te visitar!" D. Nair olhou para Solenta e indagou: "Isaura?" Ao perceber que não se tratava de Isaura, sua expressão não foi de espanto nem de frustração. Não é possível saber se por ela estar com sono ou por que outra razão, mas pareceu que receber a visita de uma palhaça era a coisa mais normal e corriqueira. Solenta não podia se expandir muito no encontro e fazer muito barulho, pois Bia estava dormindo na sala ao lado. Assim, enquanto Terezinha e Marli foram para a sala, Solenta se ajoelhou no chão à cabeceira de D. Nair e deu início a um encontro que foi recheado muito mais de conversas do que de palhaçadas. Solenta até apresentou alguns instrumentos para ela mas não foram todos e também não sentiu por parte de D. Nair muita empolgação ou curiosidade. Para tudo que Solenta perguntava ela começava dizendo: "acho que..." Seguia dizendo não ter muita certeza e completava com: "pergunta para Marli, ela que sabe." O curioso é que, fora o nome de uma das netas que lhe fugiu a mente, todas as outras respostas estavam certas. Coisas do tipo: o dia, ano e onde nasceu, há quanto tempo mora na casa, quantos filhos e outros detalhes de sua história. Parece que ela não confia na própria memória. Mas na verdade ela soube responder tudo que foi perguntado. Até mesmo cantar cantigas de roda e músicas antigas. Cantava e dizia que não sabia. Cantava e dizia que sua voz já não saía mais. Não adiantava Solenta falar: "mas a senhora está cantando! A senhora está lembrando!" A idéia que ela tem de si própria, de que sua mémoria já não funciona, de que sua voz acabou, é mais forte do que o que a realidade mostra. D. Nair estava toda perfumada e enfeitada com brinco, colar e roupa de passeio. Disse que foi a neta que a arrumou. Certamente para esperar a visita do PAD. Marli preparou um café para Solenta e Terezinha e elas foram para cozinha deixando D. Nair no quarto. Bia despertou de seu soninho e ficou com elas na cozinha. Aí deu para ver o amor com que é cuidada por Marli. O café estava uma delícia e o papo e as brincadeiras com Bia também mas já era hora de ir embora. Antes Terezinha pediu para Solenta deixar para D. Nair dois bichinhos de pelúcia de presente do dia das crianças para ele entregar para as netas Carol e Fernanda. D. Nair ficou bem em dúvida sobre qual brinquedo entregaria para qual neta, decidia uma coisa, logo decidia outra e pedia a opinião de Marli. Solenta abraçou e beijou D. Nair e se despediu prometendo voltar se fosse do gosto dela. Marli nos acompanhou até o portão trazendo no colo Bia. Como é bom partir com acenos no portão.

Solenta e D. Nair

Solenta admirando Marli com Bia no colo

Bia momentos antes do choro

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