D. Olga (Kimi) - Primeira Visita

As visitas de D. Olga e S. Francisco foram na companhia de Milena, fonoaudióloga do PAD. Ela tem um jeito calmo e delicado que inspira uma boa dose de tranquilidade. Participaram da visita Laís e Niely, também fonoaudiólogas que fazem um curso de aprimoramento profissional.
Célia, uma das filhas cuidadoras de D. Olga, foi quem nos recebeu e sua expressão ao ver Solenta foi de surpresa boa. Dona Olga está acamada em decorrência de um AVC. Como a ocorrência do derrame é recente, seu lado esquerdo ainda está bem paralisado. Seu nome é Kimi, descendente de orientais, mas gosta de ser chamada de Olga. Fica em uma cama hospitalar na sala.
O ENCONTRO
Diferentemente das visitas anteriores, acompanhadas pela enfermeira Terezinha, em que Solenta esperava que ela entrasse para só depois aparecer e ser apresentada, com as fonos Milena, Laís e Niely, Solenta tomou a dianteira e até brincou de apresentá-las, como se fosse ela que conhecesse a casa, a paciente, a cuidadora. Não pareceu a princípio que D. Olga ficou muito empolgada com a aparição de Solenta. O bom é que Solenta não se abalou com essa aparente primeira impressão. Enquanto Milena, Laís e Niely faziam seu trabalho, Solenta ficou em volta fotografando, disparando perguntas, observações e falando bobagens. Até saiu para a varanda para tentar se comunicar com D. Olga pelo lado de fora da janela. A passagem do trabalho das fonos para o da palhaça foi sutil. Solenta foi ajudar D. Olga a segurar a xícara para que ela tentasse tomar água sozinha. Sem se aperceber, no momento, acabou ficando do lado direito de D. Olga, que é o lado que ela tem mais facilidade de comunicação. Se Solenta tivesse pensado um pouquinho, teria ficado do lado esquerdo para ajudar na estimulação do lado com dificuldades. Mas como é lenta, só percebeu isso depois que já havia ido embora. D. Olga é muito religiosa e tem junto consigo um crucifixo que hora está em sua mão direita, hora coloca em seu peito por dentro da camisola. Constantemente leva-o até a boca para beijá-lo. Solenta fez graça com o chapéu, cantou, elogiou e beijou as mãos de D. Olga, que pouco a pouco foi se soltando. Célia também ajudou bastante pois é uma pessoa extremamente risonha. Por vezes tem surtos de risadas que é uma delícia de presenciar. O ponto alto de euforia de Solenta foi quando ela conseguiu entender de D. Olga que ela já teve um chapéu igual ao seu. D. Olga foi se abrindo bem devagar e saiu de uma aparente indiferença em relação à palhaça para troca de muitos beijos e carícias na face. Para Solenta é sempre um momento de êxtase quando um paciente que não se expressa verbalmente leva a mão até sua face. É um instante íntimo que traz a sensação de paralisação do tempo e concentração do espaço naquele único gesto. Na verdade, essa descrição é bem insuficiente e não consigo achar um jeito melhor de fazê-la. No começo do encontro, D. Olga queria ficar com o edredon puxado até o pescoço e no final estava com a coberta na altura da cintura. Boa metáfora para dizer que Solenta foi descobrindo D. Olga pouco a pouco. Só não pôde mesmo descobrir o que ela tanto queria dizer apontando para a boca, enfiando o dedo indicador entre os lábios, mexendo a língua e movimentando o queixo com a ajuda dos dedos num gesto de mastigar. Solenta fez um monte de suposições. Seria uma afta incomodando? Seria uma dança de língua que ela queria lhe ensinar? Seria a vontade de colocar a prótese? (hipótese de Célia) O que seria? Como ela ainda não consegue falar, fica difícil ter certeza. Mas uma pista bem forte apareceu na hora em que fomos embora. Quando viramos as costas, D. Olga rapidamente tentou arrancar a sonda por onde recebe o complemento de sua alimentação. Por sorte Milena viu e voltou para impedi-la. A leitura que Solenta fez de tal gesto foi: "como vocês vão embora me deixando essa sonda se eu disse mil vezes que posso mastigar?" Claro que essa leitura, assim tão dramática, é coisa da cabeça de Solenta, pois D. Olga, tão delicada, provavelmente nunca falaria algo assim. Apesar dessas dúvidas que pairaram na alma de Solenta, ela partiu bem feliz pois sentiu que o encontro foi muito precioso, que D. Olga pôde se abrir para aquela relação tão inusitada.





Célia ajuda D. Olga a segurar a xícara

Milena, Laís, Niely e D. Olga - Qual foi a piada?
Solenta tenta chamar a atenção de D. Olga







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