D. Thereza - Primeira Visita

Ana Silvia e Solenta chamaram bastante tempo ao portão. Como ninguém vinha nos atender, Ana ligou do celular para avisar que estávamos na frente da casa. Maria de Lourdes, a filha cuidadora de D. Thereza, apareceu toda afobada, pois estava na parte de trás da casa e não havia nos ouvido.
D. Thereza tem 90 anos, sofre de uma doença do coração e é extremamente lúcida.
O ENCONTRO
Maria de Lourdes (tia Lu, apelido com que a chamarei daqui para frente) guiou Ana e Solenta até a cozinha onde estava D. Thereza. Pelo caminho já foi anunciando que a mãe estava muito bem, que no final de semana anterior havia sido o aniversário de uma de suas irmãs e que D. Thereza havia descido e subido escadas sozinha. Quando chegamos na cozinha, D. Thereza estava terminando de lavar umas louças. Quando viu que tinha visitas, secou as mãos e deu um abraço tão apertado em Solenta que ela ficou impressionada com a força e vigor daquela mulher. Essa sensação permaneceu durante todo o encontro. Encontro que foi centrado em muitas histórias que D. Thereza tinha para contar. Solenta estava embriagada com a beleza de D. Thereza. E olha que ela nem bebeu o vinho que tia Lu oferecia com insistência. Logo se viu que elas eram descendentes de italianos e D. Thereza contou da bisavó, que foi condessa, de sua infância como lavradora, de como conheceu o falecido marido. Teve nove filhos e cinco deles no período de quatro anos pois teve filhas gêmeas. Gostava de dançar e adorava os bailes que havia na casa de seu pai, no período em que morava na roça em Cândido Mota, interior de São Paulo. Solenta se meteu a falar italiano stropiato mas logo percebeu que ela na verdade não entende nada de italiano. Depois, foram ao quarto de D . Thereza conhecer sua coleção de bonecas. Bonecas de todos os tipos que ela ganha de familiares e amigos que sabem dessa sua paixão. Voltaram para cozinha pois Solenta anunciou que iria apresentar seus instrumentos, mas D. Thereza queria mesmo era conversar e Solenta queria ouvi-la, mas tia Lu, depois de saber que Solenta tinha instrumentos em sua malinha, queria conhecê-los. Solenta fez uma dancinha ao som de sua pequena gaitinha e depois apresentou sua caixinha de música. Tia Lu foi buscar sua caixa de música em formato de máquina de costura. Estava com algumas partes quebradas mas o som ainda saía, baixinho, mas saía. Solenta queria ouvir mais D. Thereza pois estava adorando as histórias que ela tinha para contar. Depois chegou a outra filha de D. Thereza, a que tinha feito aniversário no final de semana anterior, de que Solenta não conseguiu guardar o nome. Ela reclamou do tratamento que algumas pessoas deram à mãe em sua passagem pelo hospital. E parecia tão brava que quase Solenta achou que devia responder a suas queixas. Ainda bem que recuperou sua função a tempo e deixou Ana, mais preparada e experiente para cuidar desse assunto, e voltou a se concentrar em D. Thereza que, nesse momento, expressou uma idéia que repetiria várias vezes durante o encontro: "nunca maltratei ninguém na minha vida." Disse que sempre fala para a filha que, quando ela maltrata alguém, está no fundo fazendo mal a ela mesma. Sabedoria que só a experiência, aliada a observação verdadeira, pode desenvolver. Talvez por isso tenha recebido Solenta, uma completa desconhecida, de abraços abertos, de forma tão acolhedora. Tia Lu presenteou Ana e Solenta com saquinhos de balas e pirulitos, mostrou fotos da comemoração dos 90 anos da mãe, foto da mãe jovem e de um irmão solteiro, de olhos verdes, que Solenta se assanhou em conhecer. Na despedida, D. Thereza deu vários beijos em Solenta, que quase flutuou de tanta felicidade. D. Thereza é ao mesmo tempo uma mulher forte e delicada e de uma lucidez rara. Solenta intui que a força e a delicadeza foram desenvolvidas nos ofícios diversos que teve ao longo da vida, desde o mais bruto, como a lavoura, até os mais refinados, como o crochê e a costura.
Solenta foi embora com um misto de alegria por conhecê-la e tristeza por não estar em um de seus melhores dias e poder oferecer a D. Thereza toda a graça que ela merece.

Ana Sílvia e D. Thereza

Tia Lu ao fundo, Solenta e D. Thereza de mãos dadas
Fotos antigas de D. Thereza e do marido Victório


Toalha de centro feita por D. Thereza

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