S. Francisco - Primeira Visita

Quando o carro entrou na quadra da casa de S. Francisco, Solenta falou: "vixe!!!" A rua estava repleta de crianças que brincavam justamente na frente da casa dele. Acho que foi Laís que perguntou: "você não gosta de crianças?" E Solenta respondeu: "adoro crianças, mas se eu for dar a atenção que cada uma merece não chegarei até S. Francisco." Solenta desceu do carro, brincou com um menino que passava chupando um limão e seguiu rapidamente para o portão de entrada do local onde ficava a casa. No meio do aglomerado de crianças, adolescentes e adultos, um sorriso e uma cara boa chamaram a atenção de Solenta. Era Igor, que mais tarde Solenta soube que é cunhado de Luciana, a filha de S. Francisco. Quando pediu ajuda para saber qual das casas era a procurada, Rian se apresentou para ajudar. Ele é um dos netos de S. Francisco.
S. Francisco tem 76 anos e sequelas de um AVC. Ele consegue se comunicar verbalmente e é possível entender quase tudo o que ele fala. Mora com a filha Luciana, o genro Junior e três netos: Chaiene, Rian e outro que não estava lá durante a visita.
O ENCONTRO
S. Francisco estava na sala, sentado no sofá e fez uma expressão bem enigmática quando avistou Solenta. Já Luciana, a filha cuidadora, abriu um sorriso de fora a fora e anuciou que adora circo, palhaços e dar risadas. Disse ainda que às vezes ri muito alto. Solenta incentivou, disse que é muito bom dar risadas, que faz bem para a saúde e quanto mais alto melhor. Quando disse isso, o marido de Luciana disse, lá da cozinha: "não fala isso...", já suspeitando que, a partir daquele momento, Luciana teria aval para gargalhar a vontade. Quando Milena, Laís e Niely estavam realizando seu trabalho, o telefone tocou e era para uma vizinha, que Luciana pediu para que uma das crianças fosse chamar. Enquanto ela não vinha, Solenta pegou o telefone e começou a falar bobagens até que tomou um susto quando achou que o telefonema era para convocar Íris para uma entrevista de emprego. Apesar de perceber que a moça do outro lado da linha estava se divertindo, Solenta começou a se desculpar falando para ela não deixar de dar o emprego para a Íris, que ela não era culpada de Solenta falar tanto e tanta bobagem. Quando as fonos terminaram sua parte, Solenta disse para S. Francisco: "agora eu sou toda sua. Pode pedir o que o senhor quiser que eu faço." E ele disse: "por quanto tempo?" Solenta respondeu: "é, não é muito, uns 15, 20 minutos, mas já é alguma coisa..." Solenta puxou sua pequena gaita e tocou uma música. Depois pegou o rói-rói, que é sempre um sucesso com a criançada. Só que ele estava arrebentando e Solenta não quis usá-lo muito. Todos protestaram e quiseram ver mais. Solenta então perguntou se eles estavam preparados para ver uma palhaça muito triste pois é o que aconteceria se ele se quebrasse. Um silêncio se fez e logo todos concordaram que queriam correr o risco. Então Solenta começou a girá-lo um pouco timidamente depois mais rápido e felizmente ele não se partiu. A sala estava cheia e Solenta teve dificuldade de fechar o foco em S. Francisco. Mas pôde saber que ele nasceu em Itajubá, que trabalhou como feirante vendendo frutas nacionais e importadas, que um de seus cantores prediletos é Vicente Celestino e que ele gostava de cantar suas canções junto com a irmã. S. Francisco estava irritado com o bebê que a toda hora pisava em sua unha encravada e Solenta nomeou Chaiene a cuidadora do dedão de S. Francisco para que ela não deixasse o bebê se aproximar dele. Depois posaram para fotos e o momento mais tocante do encontro foi quando, depois de receber um beijo de Solenta em seu rosto, S. Francisco levou a mão ao peito por baixo da camiseta e fez de conta que era um coração que batia. Foi tão bonito que Milena pediu para repetir para que ela pudesse filmar. E a repetição foi ainda mais completa, o coração foi se acelerando. Já perto da hora de ir embora Solenta se meteu novamente a pegar o telefone da mão de Luciana. Nesse instante, ela viu um relógio na parede com a imagem de Charles Chaplin, deu um pulo e disse: "como só agora fui perceber o retrato de meu mestre na parede? Eu fiquei de costas para ele o tempo todo?"
Na despedida, Solenta parabenizou-o por ter uma família tão linda e feliz. Solenta percebeu que S. Francisco ficou emocionado. Talvez haja coisas para resolver entre pai e filha, alguns sentimentos represados, desgastes do cotidiano, mas o mais lindo que ela percebeu foi que ali existe muito amor, muita gratidão e muita vida.
Se sempre fica a impressão de que a hora da partida chega muito rápido, dessa vez foi um pouco pior, Solenta saiu com a impressão de que foi embora antes da hora e que deveria ter ficado um pouco mais, pois sentiu que S. Francisco ainda tinha coisas a dizer e ela queria muito ouvir. Foi embora com o coração quente já aguardando o dia do retorno.
Luciana, Solenta, S. Francisco, Rian, Chaiene e o bebê






Vicente Celestino cantando O Ébrio
http://www.youtube.com/watch?v=6AWiitgGqTc

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