D. Maria Bonita

Mais um registro escrito após mais de um mês da visita. Vamos lá, puxando os fios da memória... Dona Maria Jerônima tem 83 anos, está acamada em decorrência de um AVC. Usa sonda para alimentação.

O ENCONTRO

Chegar à casa de D. Maria Jerônima é como ultrapassar um portal para uma cidadezinha do interior. Já da calçada se avista lá no alto uma parreira muito antiga. Subindo pelas escadas se vê, à direita, um pomar com frutas diversas. Eu e Terezinha fomos recebidas por Ana e Eliana, filhas da paciente. D. Maria Jerônima, já de cara, disse que todos a tratam por Maria Bonita e é assim que gosta de ser chamada. D. Maria Bonita é uma pessoa muito forte, em todos os sentidos. Primeiro porque seu AVC é ainda bem recente e sua recuperação caminha bem e, segundo, porque parece que ela é uma mulher de pulso firme, ativa e determinada. Por isso tudo, dá para imaginar como deve estar sendo difícl para ela ter que ficar o dia todo presa a uma cama.
Bom, chega de divagações e passemos a visita de fato. Logo que a vi, disse que ela era linda e que ela me lembrava uma cantora de Congada. Foi falar isso para a filha dizer : "como você advinhou? Ela dançava congada há muitos anos, quando morava em Minas!" Ficamos todos surpresas pois, até então, eu ainda não sabia que ela era de Minas Gerais. Ela é de Araguari, região do Triângulo Mineiro, e veio para São Paulo com 19 anos. Depois, ela contou que morou na região do Sumaré e, como também morei lá, trocamos histórias. Não que eu tenha vivido na mesma época, mas eu ouvi muita coisa de uma antiga moradora do local, a respeito do bonde, da igreja, das intalações da Rádio e TV Tupi, do encontro com artistas da época de ouro do rádio... Fiquei surpresa com o tanto de referências históricas que D. Maria Bonita usava, de guerras a nomes de presidentes. Como eu estava num dia pouco palhaça, fiquei mesmo foi em uma "conversa de comadres", o que, no fundo, acho que era o que ela realmente queria. Ela me contou bastante coisa de sua história e de sua família. Contou que levava os filhos para brincar em uma chácara, onde hoje fica o Shopping Iguatemi, que caminhava do Sumaré até o Brás, que sempre gostou muito de viajar. No quintal dessa casa que mora hoje, plantou uma jabuticabeira para cada filha. Contou que a filha mais velha, que também teve um AVC e que ainda nem sabe que a mãe teve o mesmo problema, foi adotada quando seu casamento estava completando 9 meses. A filha Ana, que ficou o tempo todo conosco durante a visita, me mostrou, em seu notebook, fotos do último aniversário de D. Maria Bonita, em outrubro de 2009. Que coisa linda, família grande e bonita! Fora isso, D. Maria Bonita é também muito querida no bairro, tem uma família ampliada. Histórias e mais histórias, o tempo foi passando e a hora de ir embora chegou. Tudo o que posso dizer agora é que apesar de eu não estar muito palhaça, foi bom ficar lá ouvindo histórias. Espero que tenha sido bom para ela também.






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