D. Auta - Primeira Visita
Quem nos abriu o portão da casa foi a neta Paula. Subimos a escada que dava para uma porta de frente para a sala e para um enorme terraço. A casa fica de frente para uma imensa praça, o que dá a sensação de estarmos em uma cidade do interior. D. Auta tem 75 anos e está na cadeira de rodas por sequelas de um segundo AVC. Mora com a filha e netos. Uma casa cheia de gente, de cachorros e de vida.
O ENCONTRO
Quando chegamos, Neca, a filha cuidadora de D. Auta, estava na sala, tendo os pés e as mãos sendo feitas por Alcione. D. Auta também estava na sala, em uma cadeira de rodas. Solenta entrou se apresentando e se ajoelhou aos pés de D. Auta e falou para ela pedir uma música que ela cantaria. D. Auta pediu uma música que Solenta não conhecia. E Solenta foi engasgando até
encontrar alguma música que a agradasse. A neta Paula e Alcione cantaram junto Fascinação. Logo depois chegou Rafael, o genro que estava vindo do PAD, onde havia ido buscar uma cadeira de rodas mais adequada do que a que ela estava usando. Então, Solenta e D. Auta, com sua cadeira nova, foram para o terraço, enquanto Terezinha conversava com Neca na sala. No terraço, ao ar livre, um solzinho manso e uma brisa leve foram abrindo as portas para o universo de D. Auta. Quando Solenta soube que ela veio da cidade de Jequitinhonha, Minas Gerais, ficou na maior empolgação. Disse para D. Auta que seu marido viaja muito para aquela região pesquisando as ceramistas e as manifestações de Folia de Reis e de São Sebastião. D. Auta disse que fazia parte de um grupo de "Auto do Boi" que todo janeiro saía pelas casas da cidade, doze pessoas vestidas de calça branca e camisa estampada, sanfona, violão, pandeiro e triângulo. Cantavam e dançavam. Quando Solenta perguntou se ela se lembrava de alguma música, ela cantou a que está gravada na outra postagem. Ela disse também que estudou por muitos anos em um colégio de freiras na cidade de Araçuaí. Durante o encontro, entre as histórias, por várias vezes, D. Auta ficava com o olhar distante, como se estivesse a percorrer os quase 1.300km que separam São Paulo da cidade de Jequitinhonha. Um olhar melancólico e profundo. Saudades da terra natal? Saudades de um tempo que ficou para trás? Talvez tudo isso e muito mais. Quando Terezinha chegou para perguntar se ela havia gostado da visita, ela disse com o maior orgulho que o marido de Solenta conhecia sua cidade. Pois é, a gente nunca sabe o que é que pode tocar fundo uma pessoa. Coisas aparentemente sem importância ganham significados impensáveis. Na despedida, quando Solenta foi dar tchau para as pessoas que estavam na sala, todos agradeceram a visita, mas Alcione agradeceu tão profundamente que Solenta chegou a ficar emocionada. E lá vamos nós embora já aguardando o dia de retornar.
D. Auta mirando ao longe
Posando com sua cadeira nova
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