Sergio -Primeira Visita

S. Sergio tem 68 anos, está acamado, usa sonda vesical e tem Parkinson avançado. A visita foi acompanhada pela enfermeira Terezinha.

O ENCONTRO

Fomos recebidas pela esposa e cuidadora de S. Sérgio, Maria Aparecida, que pediu para ser chamada simplesmente por Cida, sem Dona. No trajeto até o quarto em que estava S. Sérgio, ela reclamou de dor na cintura, disse que estava até chorando no momento em que chegamos. Mais para o final do encontro, Solenta brincou de fazer uma "pajelança" para tirar a dor que ela sentia. Foi uma brincadeira divertida. S. Sérgio demonstrou bastante alegria ao ver Solenta e isso se estendeu por todo encontro, pois ele gargalhou diversas vezes. Não era muito fácil entender o que ele dizia pois, além dele falar baixo, as palavras saíam bem enroladas. Foi como na maioria dos encontros em que o paciente tem dificuldades de se expressar verbalmente, depois de alguns minutos e muita concentração já é possível compreender boa parte do que eles dizem. É preciso afinar o ouvido. É como quando ouvimos um sotaque muito diferente do nosso, a princípio nos é estranho mas depois de algum tempo é capaz de, sem querer, estarmos imitando quem fala.
E assim, de ouvido apurado, consegui saber que ele nasceu na cidade de Piracaia em 19 de julho de 1941. Que Cida nasceu em 1942, um ano mais nova que ele. Que eles são casados há 45 anos. Depois ele disse que havia casado há pouco tempo. "Como assim?", perguntei, "o senhor disse que se casou há 45 anos." Então, Cida esclareceu que eles vivem juntos há 45 anos mas, um pouco antes de adoecer, ele quis casar no papel. Pedi para Cida levantar um pouco a cama para ele ficar em uma posição mais sentada e enquanto ela girava a manivela eu fiz uma trilha sonora "nheco, nheco, nheco..." S. Sérgio gargalhou gostoso. Ele disse que gostava do Mazzaropi e cantou um trechinho de uma música de um dos filmes dele, que eu não consegui descobrir qual é. Mesmo assim, abaixou um Mazzaropi em Solenta que começou a andar pelo quarto, imitando o ator. S. Rui foi o primeiro paciente que me disse gostar de ir ao cinema. Foi uma empolgação quando eu perguntei se ele conhecia o Cantinflas, que é o Mazzaropi do México. Ele respondeu que sim, falou do bigode dele. Solenta apresentou alguns de seus instrumentos, cantou pedaços de música e, assim, o encontro transcorreu de um jeito bem gostoso e deixando a sensação de que estávamos nos alimentando um do outro. Na despedida, Solenta deu um beijo estalado em S. Sergio, que deixou até a marca de batom. Cida, apesar da dor e do cansaço, parecia bem satisfeita com a visita e parece que se divertiu também. Ela nos acompanhou até a frente da casa para nos acenar do portão. Até a próxima!!








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