D. Patrocínia
D. Patrocínia tem 86 anos, sofre de Alzheimer e mora com a filha Cida em um apartamento. Ela tem, também, um problema no esôfago e a cada dois, três meses, tem de ir até o hospital para fazer um procedimento de dilatação do orgão.
O ENCONTRO (ou des encontro)
Terezinha e Solenta foram recebidas por Cida, filha e cuidadora de D. Patrocínia. Na verdade, essa visita foi mais para ela mesma do que para a mãe, e terei pouco o que falar sobre a visita. Cida há algum tempo atrás havia enviado, através da enfermeira Bete, uma foto dela mesma vestida de palhaça para que Solenta, através da foto, desse um nome para sua palhaça. Missão um pouco difícil essa de, através de uma imagem congelada, nomear um palhaço que não se conhece. Geralmente damos o nome a um palhaço depois que o vemos em gestos, tom de voz, personalidade, jeito de ser... O pouco que Bete sabia de Cida, me contou, que ela se vestia de palhaço para realizar alguns trabalhos voluntários em creches e outros lugares e que gostava muito disso mas que ultimamente só vinha se dedicando aos cuidados com a mãe. Olhando para a foto batizei Cida de "Daci - a palhaça que se dá." Escrevi o nome no verso da foto e pedi para Bete entregar de volta. E foi assim que, de antemão, eu já sabia da existência de Cida e ela da minha. Só que D. Patrocínia não se mostrou muito interessada na figura de Solenta. Mais que isso, no momento em que ficaram sozinhas e ela parecia estar meio sonolenta, Solenta começou a entoar algumas canções de ninar. Então, para susto de Solenta, que até então nem tinha certeza se ela se expressava verbalmente, D. Patrocínia disse: "ah, vai embora!..." Duplo susto: o de ouvir ela falar tão claramente depois de uns 10 minutos de mudez e o de ser expulsa assim com todas as letras. Só que Solenta não podia se retirar assim com o mesmo sopetão do susto, pois a cama de D. Patrocícia estava sem a grade que serve para protejê-la contra tombos e como ela na semana anterior havia caído da cama e nesse momento ela se encontrava bem na beirada, Solenta não poderia deixá-la sozinha. Cida e Terezinha estavam na sala. Solenta disse para ela que ficaria ali quietinha até Cida voltar. Quando Cida voltou, Solenta contou o que havia acontecido e pediu para que ela colocasse a grade para que ela pudesse ir para a sala também. Cida disse que se sentia envergonhada pelo gesto da mãe, mas Solenta falou para ela não se preocupar que, às vezes, a gente quer mesmo é ficar quietinha, sozinha, e que a vontade D. Patrocínia era soberana, que ela não precisava fingir gostar do que ela não estava gostando. Cida colocou a grade e D. Patrocícia pediu o terço para rezar. Solenta e Cida foram para sala e esse foi o momento de ficar um pouco com Cida e perguntar como ela estava, se estava se cuidando, e ouvi-la um pouco. Afinal, esse é também um de nossos objetivos: "cuidar do cuidador". Cida disse, entre outras coisas, que estava muito agradecida por todo o tratamento que a mãe recebe no HU e teceu uma série de elogios. Solenta e Terezinha se sentiram até orgulhosas. Terezinha foi até a porta do quarto para se despedir de D. Patrocínia e voltou dizendo que havia recebido um olhar fulminante. É, realmente, ela não estava disposta a nenhuma visita. Como Solenta já havia se despedido quando saiu do quarto, não quis se arriscar a levar mais uma chapuletada. Despediu-se de Cida e assim a visita chegou ao fim.
Cida, Solenta e D. PatrocíniaO ENCONTRO (ou des encontro)
Terezinha e Solenta foram recebidas por Cida, filha e cuidadora de D. Patrocínia. Na verdade, essa visita foi mais para ela mesma do que para a mãe, e terei pouco o que falar sobre a visita. Cida há algum tempo atrás havia enviado, através da enfermeira Bete, uma foto dela mesma vestida de palhaça para que Solenta, através da foto, desse um nome para sua palhaça. Missão um pouco difícil essa de, através de uma imagem congelada, nomear um palhaço que não se conhece. Geralmente damos o nome a um palhaço depois que o vemos em gestos, tom de voz, personalidade, jeito de ser... O pouco que Bete sabia de Cida, me contou, que ela se vestia de palhaço para realizar alguns trabalhos voluntários em creches e outros lugares e que gostava muito disso mas que ultimamente só vinha se dedicando aos cuidados com a mãe. Olhando para a foto batizei Cida de "Daci - a palhaça que se dá." Escrevi o nome no verso da foto e pedi para Bete entregar de volta. E foi assim que, de antemão, eu já sabia da existência de Cida e ela da minha. Só que D. Patrocínia não se mostrou muito interessada na figura de Solenta. Mais que isso, no momento em que ficaram sozinhas e ela parecia estar meio sonolenta, Solenta começou a entoar algumas canções de ninar. Então, para susto de Solenta, que até então nem tinha certeza se ela se expressava verbalmente, D. Patrocínia disse: "ah, vai embora!..." Duplo susto: o de ouvir ela falar tão claramente depois de uns 10 minutos de mudez e o de ser expulsa assim com todas as letras. Só que Solenta não podia se retirar assim com o mesmo sopetão do susto, pois a cama de D. Patrocícia estava sem a grade que serve para protejê-la contra tombos e como ela na semana anterior havia caído da cama e nesse momento ela se encontrava bem na beirada, Solenta não poderia deixá-la sozinha. Cida e Terezinha estavam na sala. Solenta disse para ela que ficaria ali quietinha até Cida voltar. Quando Cida voltou, Solenta contou o que havia acontecido e pediu para que ela colocasse a grade para que ela pudesse ir para a sala também. Cida disse que se sentia envergonhada pelo gesto da mãe, mas Solenta falou para ela não se preocupar que, às vezes, a gente quer mesmo é ficar quietinha, sozinha, e que a vontade D. Patrocínia era soberana, que ela não precisava fingir gostar do que ela não estava gostando. Cida colocou a grade e D. Patrocícia pediu o terço para rezar. Solenta e Cida foram para sala e esse foi o momento de ficar um pouco com Cida e perguntar como ela estava, se estava se cuidando, e ouvi-la um pouco. Afinal, esse é também um de nossos objetivos: "cuidar do cuidador". Cida disse, entre outras coisas, que estava muito agradecida por todo o tratamento que a mãe recebe no HU e teceu uma série de elogios. Solenta e Terezinha se sentiram até orgulhosas. Terezinha foi até a porta do quarto para se despedir de D. Patrocínia e voltou dizendo que havia recebido um olhar fulminante. É, realmente, ela não estava disposta a nenhuma visita. Como Solenta já havia se despedido quando saiu do quarto, não quis se arriscar a levar mais uma chapuletada. Despediu-se de Cida e assim a visita chegou ao fim.
Solenta com D. Patrocínoa, antes da expulsão
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