S. Fideliz - Retorno

 Prólogo
Havia quase um mês que Solenta não saía em visita. E nesse dia estava duplamente feliz, primeiro, por retornar a esse trabalho maravilhoso e, segundo, porque estava saindo em comitiva. Juliana e Carla, simpatissíssimas estudantes de enfermagem que estão fazendo estágio no PAD, e a querida enfermeira Terezinha. Olha a gente aí na perua! Foto tirada pelo nosso motorista Wendel.
Carla e Juliana no banco de trás e Terezinha e Solenta no da frente
O ENCONTRO
A expectativa da visita era grande pois no encontro anterior S. Fideliz não havia recebido Solenta muito bem logo de cara, só com o decorrer do tempo é que a coisa foi esquentando e ficando gostosa. Bem, aos poucos Solenta vai aprendendo um pouco mais sobre esse trabalho. Se a máxima "um encontro nunca é igual ao outro" vale para todos os pacientes (e para tudo na vida), para os pacientes com alzheimer, essa máxima é elevada à potência "máxima." E eu havia tirado algumas conclusões um pouco apressadas acerca de S. Fideliz como, por exemplo, que ele não gostava de barulho. Quando chegamos, fomos recebidas pela filha Maraísa que disse que ele não estava muito bem naquele dia e que estava sonolento. Essa notícia deixou Solenta ainda mais receosa. Mas a recepção de S. Fideliz, que estava deitado na cama, foi tão boa que qualquer receio se dissipou. e após Terezinha medir a pressão e fazer suas avaliações, ele já estava pronto para levantar. Ele se sentou na beirada da cama e aí começou a bagunça. A cuidadora Régila também estava lá e dessa vez pôde ficar o tempo todo, na vez anterior ela estava só no começo da visita pois precisou ir embora logo depois. Ao contrário de minhas expectativas, foi um encontro "do barulho!"
Uma das  preocupações de S. Fideliz nesse dia era que o telefone não estava funcionando direito e falava de nosso encontro como se ele fosse uma ligação telefônica. Num determinado momento, ele falou que a ligação ia ficar muito cara e Solenta rapidamente disse para ele não se preocupar que a ligação era local e que seria cobrado só um pulso. S. Fideliz estava feliz e divertido e apesar de toda a confusão causada pelo alzheimer, em muitos momentos ele usava de ironia para nos surpreender, como quem diz "eu sei muito bem o que se passa aqui." Houve momentos de pura diversão e eu até editei uns trechos de um filminho que Carla fez, pois descrever tudo seria impossível. E por falar em Carla, seu nome levou à palavra sarna que rendeu uma brincadeira bem divertida de eu tentar coçar as costas dele e ele brincar que se assustava com aquilo. Repetimos diversas vezes, até o momento que ele falou "chega." Aliás, isso de ele colocar um fim na brincadeira se repetiu diversas vezes. Ele embarcava na brincadeira, chegava ao ápice e de repente dizia: "chega!" ou "tá bom" ou "pronto." Outro momento bem engraçado foi quando Solenta, Régila, Carla e Juliana fizeram uma roda de rostos para ele beijar. Ele adorou aquilo. Ele gostou muito de Carla e toda hora falava que ela era bonita. E para Juliana ele apontava para ela toda vez que ela dava risada e então ela dava mais risada ainda e ele se divertia com aquilo. S. Fideliz, segundo Régila, tem gostado de rimar palavras e ele fez isso diversas vezes durante o encontro. Eram rimas bem interessantes e nem sempre óbvias, não é nada óbvio rimar Carla com sarna. Ele chama Régila de Maraísa e também chama Maraísa de Maraísa. Se apontamos para Régila (a cuidadora) e perguntamos quem é ela, ele responde que é sua esposa, mas ao ser indagado sobre onde ele nasceu, ele prontamente responde: "Dourado, terra boa!" E é essa mesma sua cidade de origem. Talvez, por essa total imprevisibilidade de como o paciente vai responder aos estímulos, que o alzheimer é tão instingante para um palhaço. Solenta havia colocado sua melhor roupa em preto e branco para homenagear o Corinthians, time amado por S. Fideliz. Ela também tentou aprender o hino do timão, cantou para ele que tentava cantar junto. Levou ainda uma caneca de presente em que havia estampada, de um lado, uma foto dele com Régila e, do outro, o símbolo do Corinthians. Ele levou um tempão para abrir o presente, não pareceu dar muita importância para aquilo. Ao que parece, o que realmente o deixou muito feliz foi aquele monte de gente, melhor dizendo, mulheres, em volta dele, paparicando-o. A triste hora do fim chegou e as despedidas foram com muitos beijos. Eta coisa boa!
Tcharaaammmmm!


Solenta ganhando um beijo na face

Régila ajudando S. Fideliz a abrir o presente

Maraísa, S. Fideliz e Solenta






Comentários

  1. Seo Fideliz parecia feliz com tanta mulher ao redor... danadinho!
    Quinta comecei minha turma de informática com Idosos... Solenta tem que me auxiliar!

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