S. João - Retorno do retorno

Retorno realizado no dia 20/07/10.
Visita acompanhada pela terapeuta ocupacional Silmara.

A história de Solenta com S. João, Dona Neli e as netas Verônica e Veridiana é uma história deliciosa. Solenta visitou S. João no seu primeiro dia de trabalho no PAD, foi o segundo paciente do dia. Era ainda um momento de muita expectativa, medo, emoção. Ainda não sabíamos que rumo o trabalho ia tomar, se ele faria sentido para os pacientes, se eu me sentiria bem fazendo esse trabalho. E a visita começou de um jeito muito difícil. Só que, felizmente, o encontro foi evoluindo para uma coisa bem gostosa. Nesse dia, S. João mal pronunciava palavras, só em um determinado momento da visita tentou balbuciar a música Asa Branca que Solenta estava cantando para ele. Quando Solenta foi fazer o retorno, no mês de julho, a pedido de D. Neli, pois suas netas estariam presentes, não pôde acreditar na evolução de S. João. Houve momentos belíssimos em que, apesar de Solenta não entender através da linguagem verbal o que S. João queria dizer, ele estava muito mais desperto, feliz e expressivo. Nesse encontro, Solenta, D. Neli e as meninas dançaram, cantaram, brincaram com um chapéu de bruxa que elas tinham lá. Isso tudo foi registrado em fotos e filminhos feitos por todos nós: Terezinha, Solenta e as próprias meninas que também usavam minha máquina. O resultado foi que produzimos muito material que me inspirou quando comecei a pensar nas "devoluções"(termo usado por minha mestramiga Naiza para entregas/presentes que tem o intuito de "devolver a pessoa para ela mesma"). Pois bem, resolvi fazer um DVD com as fotos e os filminhos. Mas isso era muito pouco, as meninas me inspiraram a muito mais. Fiz para elas um caderno com uma de nossas fotos na capa, coloquei dentro de uma bolsa verde de pano com rendas e outros apliques, feita pela minha mãe. Junto ao caderno, deixei para elas a missão de escreverem histórias para elas lerem no próximo encontro. Ao entregar o caderno, Solenta ouviu de D. Neli: "ué, como você sabia que elas adoram escrever?" Pois é, não sabia, mas intuía...Levei também chapéus para brincarmos. Dois chapéus que passaram por todas as cabeças, até mesmo pela do S. João. Poses, fotos e brincadeiras. E entreguei uma caneca em que havia estampada uma das minhas fotos favoritas do encontro anterior, uma foto em que estávamos todas grudadas em S. João. Duas coisas me surpreenderam muito nesse encontro. A primeira delas foi como as meninas mudaram nesse período de um ano. E, vendo-as assistirem ao DVD, fiquei observando a alegria e a vergonha que sentiam de se verem nos filminhos. Riam muito e ao mesmo tempo queriam se enfiar embaixo das almofadas de tanta vergonha. Verônica, hoje com 14 anos, já tem um ar mais adulto e Veridiana, apesar de só ter 12, tenta acompanhá-la. E, ao final do encontro, Verônica disse que estava com medo da minha visita pois, na noite anterior, tinha tido um pesadelo com um palhaço que a perseguia. Ao contar o sonho, pude perceber o quanto ele era simbólico e representativo de um rito de passagem da vida de criança para a vida adulta. Mas, apesar disso, as duas me receberam muito bem e, se não nos divertimos tanto quanto no encontro anterior, foi só porque cada dia é um dia, nunca igual ao outro e esse dia, apesar de não ter sido eufórico, foi igualmente delicioso. A segunda coisa que me surpreendeu enormemente foi que S. João estava falando, e muito. Fez vários comentários, todos muito pertinentes e contextualizados. D. Neli disse mesmo que, nos últimos tempos, ele tem dito coisas surpreendentes. Quando Solenta foi se despedir, disse para ele: "posso visitá-lo novamente em julho do ano que vem?" Ele respondeu: "se eu ainda estiver aqui." Pois é, sabedoria dessas de quem sabe que vivemos um dia de cada vez e é impossível prever quando partiremos. Mas Solenta foi embora confiante que em julho de 2011 tornará a revê-los.