S.João - Retorno do retorno do retorno do.....


“Nada em rigor tem começo e coisa alguma tem fim, já que tudo se passa em ponto em uma bola; e o espaço é o avesso de um silêncio onde o mundo dá suas voltas.”



É assim, peço inspiração de Guimarães Rosa para escrever esse relato que deixei assentando por mais de um mês. Sempre me sinto pequena ao escrever um relato, um minúsculo cisco no “ponto em uma bola”, incapaz de descrever a mínima parte do que sucedeu.

Esse é o quarto encontro com S. João e sua família e a cada um deles é como se andássemos para trás e para a frente a um só tempo. A cada vez, se descortina um pouco mais da história de S. João, seu passado, seus passos, seus atos. A cada vez, sinto solidificar a construção de um vínculo que pede futuro.

S. João mora com D. Neli,  esposa e cuidadora 24 horas por dia, todos os dias da semana. Está na cama há oito anos. Durante as férias escolares, eles recebem a companhia da netas, Veridyana e Verônica, que passam alguns dias com eles. Por isso o compromisso de Solenta de voltar sempre no mês de julho. Nesse ano, por causa de viagens e retorno cheio de compromissos, só consegui ligar para marcarmos a visita no final do mês e quase que ela não pode acontecer. Mas, graças ao empenho de todos, da enfermeira Terezinha sempre disposta a ajeitar as situações, dos pais de Verônica e Veridyana que se reprogramaram para buscá-las um dia depois do combinado, de D. Neli que prontamente conseguiu estabelecer as comunicações, pudemos nos deliciar com mais um encontro.

E esse encontro contava com mais uma expectativa, a filha Elaine (Nani), mãe das meninas, também estaria presente. Elaine havia deixado um recado muito tocante no blog e conhecê-la pessoalmente seria muito bom. Como soube de véspera da presença dela no encontro, passei a manhã costurando mais uma almofada com um coração aplicado, agradecimento pelo recado deixado e tentativa de expressar a admiração que tenho por suas filhas. Esse momento de costurar, de preparar presentes, é sempre um momento de me conectar com as pessoas que encontrarei. Deixar a memória fluir, relembrar.

No início era o abraço... Tudo na vida deveria começar com um abraço. Momento de aproximação de dois mundos que em silêncio e gesto se preparam para um encontro. Bem, foi assim com um lingo (longo e lindo) abraço que Solenta e D. Neli se reencontraram um ano depois. Uma dupla sensação:  de terem se encontrado uma semana antes e ao mesmo tempo há uma eternidade. “Vai entrando, sobe lá... você conhece o caminho.” 

Nani já esperava à porta e logo vieram Veridyana e Verônica usando narizes de palhaço. Que alegria reencontrá-las! S. João estava dormindo e permaneceu assim a maior parte do tempo em que estivemos lá. Só acordou em alguns momentos, posou para fotos e inclusive agradeceu o presente, a almofada com coração igual a feita para Nani. Em um determinado momento, Verônica colocou um dos narizes no avô. Como ele estava meio sonolento e não podia protestar, fiquei com receio de aquela ser uma brincadeira com o qual ele não concordaria caso estivesse em condições disso. Foi então que Nani disse que, muito pelo contrário, ele era muito brincalhão e, pela primeira vez, soube de histórias mais detalhadas de S. João: como organizava excursões para Aparecida do Norte com o pessoal da rua, como a levava , no colo, ou nas costas,  madrugada adentro ao HU quando ela estava doente, como a presenteava com flores e café da manhã em seu aniversário, como ajudava pessoas da rua, abria a casa para todos. Teve também a narração de um episódio em que ele passou uma noite inteira com um ladrão na venda que tinha em frente da casa, com medo que ele entrasse na casa e fizesse algum mal a suas filhas. Muitas histórias mais e, a cada uma, a confirmação do porque ele é amado por todos. E, acima de tudo, como é amado por ela, e como é amado por toda a família.

Outra surpresa do encontro foi que, em determinado momento, chegou o pai das meninas, Júnior, marido de Nani. Junior foi palhaço antes das meninas nascerem. Chincharrão era seu nome e, segundo ele, era um palhaço dengoso. Fizemos algumas brincadeiras, tiramos fotos. Era lindo ver a cara das filhas maravilhadas com o pai.

Teve muitas sessões de fotos, caras, bocas e cenas. Teve entrega de presentes dos travesseiros para S. João e Nani, da caneca com fotos para D. Neli, de saquinhos de pano cheio de guloseimas para as meninas. Infelizmente, Solenta só havia levado dois, pois em um determinado momento fomos chamar a vizinha Mariana, de 12 anos, que já havia estado em uma outra visita e ela ficou sem presente.
Até Solenta ganhou um presente. É que depois dela ter-se identificado com uma galinha d`Angola-descanso-de-porta, pois ela era azul de bolinha brancas e crista vermelha, resolveram presenteá-la. Aliás, a brincadeira de Solenta era de que ela deveria ter sido uma galinha d`Angola em outra "encadernação", rendeu cada um falar o que achava que tinha sido também. Nani achava que tinha sido uma múmia, pois adora laços, cintos... Verônica, que gosta de azul, se imaginou um oceano, o Pacífico mais especificamente.

A visita foi riquíssima de histórias, brincadeiras e emoções. Abaixo, postarei um filminho de fotos para quem quiser sentir um pouco da atmosfera desse dia tão especial. Pois é impossível falar sobre tudo.
Gostaria de terminar esse relato falando do imenso sentimento de gratidão que tenho por essa família. Por cada um deles, por todos.

Júnior, Solenta, Nani, Verônica eVeridyana

Momento careta: Veridyana,Verônica, Solenta e Neli

Veridyana, Mariana, Verônica e Solenta

Nani, Neli, Veridyana, S. João e Verônica

Terezinha e Nani

Comentários

  1. Ei meninas, eu fiquei de enviar fotos por e-mail para vocês, mas eu não tenho o endereço...

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  2. Lindinha,

    Sou sua eterna fã.

    bjo,
    Taty

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  3. que trabalho lindoooo
    adoraria conhecer de perto....e poder participar tbem

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