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Mostrando postagens de maio, 2009

OITAVO DIA - Dona Reiko

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Chegamos à frente da casa, situada em uma rua bem tranquila. Dois sobrados geminados que se comunicam no andar de cima por uma abertura bem em frente a escada que subimos, uma sensação de espelho. Quem nos abriu o portão foi Francinete, que cuida da casa e nos levou até onde estava Dona Reiko e a filha Natalina, que é quem cuida dela. Dona Reiko acaba de fazer 84 anos e tem um diagnótico de demência. Apesar de falar bem o português, nos últimos tempos, só tem se comunicado em japonês. O ENCONTRO Ao chegarmos no andar de cima não encontramos de cara Dona Reiko, ela estava com Natalina no terraço que dá de frente para casa. Estava sentada em uma cadeira de rodas e foi impossível decifrar o que sentiu em relação à figura de Solenta. Tinha um expressão de surpresa mas era completamente enigmática. Surpresa boa? Surpresa ruim? Surpresa indiferente? Até agora não é possível responder. Solenta de cara se admirou com a figura, que parecia ter saído de um filme, com um "figurino" impe

OITAVO DIA - Seu Fernando

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Foi a primeira vez que fomos a um apartamento. Até agora, todos os pacientes visitados moravam em casas. Subimos até o terceiro andar e Bete tocou a campainha. Atendeu a porta a simpática e sorridente cuidadora Fátima. Seu Fernando tem 81 anos, teve um AVC há muito pouco tempo e está tendo uma rápida recuperação. Sua esposa não estava em casa, trabalha o dia todo, e o filho Daniel, de pouco mais de 20 anos, é quem cuida do pai.                                                    O ENCONTRO                                                                                                                                                    Seu Fernando estava deitado no sofá da sala, aconchegado embaixo do cobertor. Foi mais um amor à primeira vista . Quando Solenta se ajoelhou para cumprimentá-lo e pegou na sua mão ele começou a recitar um poema que engatou em outro que emendou em mais um. Terminou com uma recomendação: "quem tem mãe tem que zelar por ela." Solenta ficou em êxta

Outro olhar

Hoje tive uma outra companheira de visitas, a enfermeira Bete. Terezinha entrou em férias e só volta daqui a um mês. Minha nova parceira escolheu dois novos pacientes que foram visitados hoje e serão novamente no dia 17 de junho. Dias 03 e 10 de junho não poderei fazer visitas. Quando Terezinha voltar, partiremos para a segunda visita dos primeiros pacientes. Assim, hoje fechei o ciclo de primeiras visitas. Foram 15 pacientes em dois meses, 15 universos, 15 possibilidades de mergulho, 15 jeitos de estar e observar. 

SÉTIMO DIA - Dona Francisca

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Dona Francisca tem 62 anos e  é a mais nova paciente do PAD. Ao visitá-la na quarta-feira fazia apenas dois dias que ela havia saído da internação e voltado para casa. Ela está com sonda para receber alimentação subcutânia mas está conseguindo se alimentar via oral. A casa estava cheia: irmãs, marido, filhos e netos. Precisamente dos 8 aos 8O. Oito meses... O ENCONTRO Quando chegamos, Seu José, o marido, nos esperava na garagem da casa. Começaram as apresentações da família, treze pessoas além de Dona Francisca. Solenta se sentiu em casa com uma família tão grande e tão acolhedora. Dona Francisca a recebeu muito bem e parecia muito satisfeita com a visita inesperada. Quando Terezinha ficou com Dona Francisca para seus procedimentos de enfermagem, Solenta foi para cozinha onde se encontrava toda a família. Impossível relatar todas as maravilhas desse encontro em que todos estavam muito envolvidos e verdadeiramente presentes. Contaram histórias da Paraíba, terra natal da família, e fina

SEXTO DIA - Dona Divina

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Ao chegarmos na frente da casa  fomos recepcionadas  por Graziela, a neta  de 17 anos que já estava com o portão aberto a nossa espera. Dona Divina tem 79 anos e está acamada em consequência de um AVC. A casa é bem populosa mas  tem uma tranquilidade surpreendente, toda a família, incluindo Natan, de 8 anos, age sempre de forma delicada e respeitosa. Depois de sermos recebidas por Graziela,  foi brotando gente de todo canto. A neta Daniela, com um nenê de um mês no colo, o bisneto Natan, a irmã Elvira de 94, muito forte e lúcida e Claudinei, que talvez seja neto de Dona Divina.  O ENCONTRO Dona Divina não parece ter a idade que tem e ninguém diria que sofre de graves problemas de saúde. Está sentada na cama, encostada na cabeceira, como quem simplesmente torceu o tornozelo  e está obrigada a receber as visitas no quarto. De cara se abriu por completo para o encontro. A delícia de qualquer palhaço, essas pessoas que só falam sim, que se entregam, que entram no jogo sem questionar... Adm

SEXTO DIA - Dona Joana

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Ao chamarmos no portão veio uma voz de dentro: "Um minuto, por favor". Era Lúcia, a filha de Dona Joana que mora na casa em frente com suas filhas e que cuida da mãe na parte da tarde, depois que a cuidadora vai embora. Dona Joana tem 83 anos e está acamada há muito tempo decorrente de um AVC. Ela se comunica verbalmente e fica em um quarto, separado das outras casas do terreno,  onde dorme sozinha.  O ENCONTRO Lúcia foi prender o cachorro que latia desesperadamente como o mais  feroz dos cães. Pura fita, pois Popó conseguiu escapar e veio atrás de Solenta e Terezinha com o rabo abanando. Foi uma confraternização. Solenta ama cães, gatos, coelhos, papagaios... Quando Terezinha foi entrar no quarto de Dona Joana ela estava fazendo suas necessidades fisiológicas (o número 2), em um "trono" improvisado ao lado da cama. Terezinha chamou Lúcia para ajudá-la. Enquanto isso, Solenta e Terezinha ficaram admirando e fotografando as orquídeas que estavam na frente da ca

QUINTO DIA - Seu Luiz Pereira

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Regina, a filha de Seu Luiz, foi quem nos abriu o portão. Logo veio Dona Maria, a esposa, duas mulheres fortes e acolhedoras. Seu Luiz está acamado há muitos anos, consequência de um AVC. Tem uma série de enfermidades decorrentes, mas consegue se comunicar verbalmente. O ENCONTRO Solenta mal havia sido apresentada para seu Luiz, chegou seu neto Denis, de 7 anos. A partir daí, ele revezou com Solenta a condução do encontro. Nas apresentações iniciais aconteceu uma grande "euforia fotográfica". Era Regina fotografando com seu celular, Terezinha fotografando com a máquina da Solenta, Denis apagando, sem querer, foto tirada pela mãe, Solenta pedindo para Denis para fotografar sua mãe, sua avó e seu avô com a máquina que estava sendo usada por Terezinha... Seu Luiz parecia estupefato com tamanha algazarra. Depois, enquanto Terezinha fazia seus procedimentos, Denis levou Solenta para a sala, ele estava empolgadíssimo para mostrar seu uniforme da escolinha de futebol, escolinha

QUINTO DIA - Dona Cândida

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Chegamos à frente da casa onde se depara um lindo jardim. Fomos recebidas pela sorridente filha Liana, por uma orquídea fartamente florida e pelos latidos de Bruna e Pretinha, as duas cadelas da casa. Dona Cândida tem 87 anos, está acamada em consequência de um AVC e permanece entre a cama e a cadeira de rodas. Ela não consegue falar, mas tem um jeito de se expressar tão próprio que é entendida em quase tudo o que quer dizer. As filhas saem com ela sempre que podem. Bete é a cuidadora amorosa e dedicada e Neguinha é a simpática ajudante da casa. O ENCONTRO Foi lindo perceber o espanto contente de Candinha ao ver Solenta. Seus olhos saltaram e um largo sorriso se estampou em seu rosto. Olhava para Liana, Terezinha e Bete com um ar de indagação: "o que é isso?", ou melhor, "quem é essa?" Era um rosto iluminado e Solenta se apaixonou de cara. Como é bom esse amor a primeira vista, principalmente quando correspondido. Solenta pegou em sua mão que era pura maciez e p