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Mostrando postagens de julho, 2009

S. PAULO - O RETORNO

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Na varanda da casa, nos deparamos com um varal repleto de roupas de cama tentando secar. Há dias que chove sem trégua na cidade de São Paulo, até mesmo Solenta, que adora frio e chuva, nesse dia esparramou para os quatro cantos que já estava enjoada desse tempo. As roupas não secam, os ossos resfriam e o corpo fica com uma sensação de sem lugar. Quem nos abriu o portão foi Fabiane, uma moça que ajuda Irene, a esposa. Fabiane não estava na primeira visita e Solenta não a conhecia. Ela já foi logo falando que Solenta não iria fazer nenhum sucesso com S. Paulo, que ele só tinha olhos para Terezinha. E falou tão enfaticamente isso e repetiu tantas vezes que não houve mesmo forma de ser diferente. Como descrevi no primeiro relato, S. Paulo não se expressa verbalmente, só com movimentos de cabeça e olhos e, com a boca, só o beijo que manda quando solicitado. Irene é extremamente dedicada e amorosa. S. Paulo acompanhava Terezinha com o olhar o tempo todo. E Solenta tinha a impressão de que

S. SATURNINO - O RETORNO

Quando chegamos em frente à casa, Solenta teimou com o motorista que eles estavam em frente à casa errada. Que nada, a família se mudou.  Novamente fomos recepcionadas por Cris, a sobrinha cuidadora. E, segundo ela, a casa nova é  bem melhor, sem o carpete que fazia mal para S. Saturnino.  Chegamos ao quarto do fundo, no andar de cima, onde se encontrava S. Saturnino, a esposa Benê, que dessa vez estava sentada na cama ao lado, e Laís, esposa de um dos netos deles. A televisão estava ligada e ficou assim por um longo tempo, pois Laís estava bem interessada no que estava passando, até que Terezinha pediu para desligá-la. S. Saturnino não parecia nem um pouco interessado na TV e ficou bem contente com a visita. O espaço ao lado da cama  era apertado e havia a fileira dos balões de ar, o que dificultou um pouco a aproximação de Solenta, que também  não se sentiu a vontade para se atirar na cama pois a barra de sua saia estava muito molhada e já bem suja apesar de ser a primeira visita do

S. SATURNINO - O Mar

Para ouvir S. Saturnino cantando junto com Caymmi

Citando Italo Calvino

Capì questo: che le associazioni rendono l'uomo più forte e mettono in risalto le doti migliori delle singole persone, e dànno la gioia che raramente s'ha restando per proprio conto, de vedere quanta gente c'é onesta e brava e capace per cui vale la pena di volere cose buone (mentre vivendo per proprio conto capita più spesso il contrario, di vedere l'altra faccia della gente, quella per cui bisogna tener sempre la mano alla guardia della spada).   Entendam isto: que as associações tornam o homem mais forte e colocam em destaque os melhores dons da pessoa singular, e dão a alegria que raramente se tem ficando por conta própria, de ver quanta gente existe honesta e brava e capaz, pelas quais vale a pena querer coisas boas (enquanto vivendo por conta própria acontece com mais frequência o contrário, de vermos a outra face das pessoas, aquela pela qual é preciso ter sempre a mão na guarda da espada). Italo Calvino, I Nostri Antenati, p. 192, Oscar Mondadori, 2008.

SEU JOÃO - O RETORNO

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Sempre que começo um relato, me pergunto se conseguirei ou não passar a atmosfera que permeou o encontro. Às vezes consigo e às vezes não passo nem perto. No caso de S. João, gostaria de passar, além da atmosfera, a transformação que foi se dando desde o tocar a campainha do primeiro encontro até o final desse segundo. D. Neli, a esposa de S. João, estava nitidamente exausta em nossa primeira visita, e no início dela não estava vendo muito sentido na presença de uma palhaça na casa. Aos poucos foi se abrindo e ao término desse primeiro dia já estava completamente transformada. E nosso segundo encontro já partiu desse ponto. Quando tocamos a campainha já pudemos perceber a euforia das netas que esperavam no pequeno quintal, que é dividido com outra casa. Veridiana e Verônica não estavam no primeiro encontro e elas estão agora passando uma semana de férias com os avós. Além das duas, mais duas vizinhas estavam com elas: Mariana e Gabriela. Gabriela, a mais velha, de 13 anos, correu para

O Forró Improvisado

Verônica, Veridiana e Solenta dançam O Siri Jogando Bola. Filmado por Mariana

DIVINA - O RETORNO

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Ao chegarmos à casa fomos recebidas pela nora de D. Divina, Maria Inês que mora em Araçatuba e veio passar uns dias por aqui. Na casa, Alan e Nathan, bisnetos, as netas Daniele e  Gabriele, de 15 anos, que agora é a cuidadora de D. Divina, e Elvira, a irmã de 94 anos. Como da outra vez, nenhum deles interferiu na visita. Ficaram na sala e só se achegaram quando foram convocados. Somente Elvira ficou por perto, buscou cadeira, ofereceu conforto. Apesar de D. Divina estar avisada da visita, até parecia que era surpresa, tamanha a euforia do encontro, do abraço.  Divina e Solenta falaram de saudade e falta, coisas que nos acometem quando ficamos tempos sem um encontro com pessoas queridas. D. Elvira trouxe uma cadeira para Solenta sentar, mas ela preferiu ficar ali ajoelhada ao pé da cabeceira de D. Divina para ficar pertinho, de mãos dadas... Divina disse várias vezes que sentiu saudades de Terezinha também. "A gente sente saudades de quem a gente gosta, vocês me fazem muito bem, me

Divina e Graciosa

Divina cantando a Rosa

MAGDALENA - O RETORNO

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Ao chegarmos à frente da casa nos deparamos com D. Magdalena, toda agasalhada, sentada de frente ao jardim. tomando um solzinho tímido e morno. Em tempos de dormência, apenas uma pequena rosa despontava do grande roseiral. Pequena e delicada como D. Magdalena. Ela ficou bem feliz de nos ver e nos perguntou se gostaríamos de entrar. Solenta disse que só se ela fizesse questão, pois ela preferia ficar ali  "céu a  aberto . "    O filho dela, que estava dentro da casa, também veio nos receber e, quando Solenta o chamou de Deílson, ele corrigiu: "Deocleir." Solenta ficou pasma por ter confundido  o nome dele por muito tempo. Ele disse que não gosta muito do nome e que todos o chamam de Cleir. Logo no começo do encontro chegaram João e Josefa, que haviam ido levar a comunhão para D. Magdalena. Como tinham outras casas para ir lá por perto, resolveram voltar mais tarde. Mas depois isso aconteceu de novo, pois quando retornaram, Solenta ainda estava pelo meio do encontro.

S. Luís Tavares - O retorno

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Tocamos a campainha algumas vezes e de dentro só silêncio. Então Solenta gritou "ô de casa!", ao que uma voz respondeu: "pode entrar." São muitos degraus até chegar à casa. D. Inês, a esposa de S. Luís, apareceu lá no alto, na frente da porta da sala. Abraço e beijo caloroso, foi uma boa recepção. Alessandra, a cuidadora, sempre sorridente. S. Luis ficou bem feliz ao ver Solenta e mais feliz ainda ao ver Terezinha com seu novo corte de cabelo que ele não cansou de elogiar até o final do encontro. "Tá bonita, ficou jovem, moça." Solenta, D. Inês e Alessandra fizeram coro concordando com ele. D. Inês começou a declamar: "Terezinha de Jesus, de uma queda foi ao chão..." e Solenta puxou a canção que elas cantaram juntas.  "Terezinha de Jesus, de uma queda foi ao chão. Acudiram três cavaleiros, todos três, chapéu na mão. O primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão, o terceiro foi aquele que Tereza deu a mão." Foi um afago no coração assisti

SEU KAJI - O RETORNO

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Seu Kaji foi o primeiro paciente que visitei e quando ao final do primeiro registro escrevi que o encontro tinha sido um bom abre alas para o trabalho que estava se iniciando, eu falava de um desejo mas não sabia exatamente o que viria pela frente. Pois bem, ele realmente foi um sinal de como as famílias amorosas acolhem com extrema gratidão o trabalho do PAD e também a presença de um palhaço, no caso, uma palhaça. Ao contrário das primeiras visitas em que a apresentação da palhaça era surpresa, no retorno, as famílias são avisadas. E é sempre uma delícia a sensação de estar sendo esperada.  Solenta também espera ansiosamente cada retorno. Com a família de S. Kaji, o retorno tomou proporções de grande celebração. Dona Maria, a esposa de S. Kaji, além do eventual café da tarde que sempre serve para a equipe, com um delicioso tempurá de batata doce, também encomendou salgadinhos. Café, chá, leite, bolo de milho, pães e frios... uma mesa farta que nos fez querer esquecer os compromissos q

SEU GERALDO - VOLVER

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INTRODUÇÃO Não posso descrever a visita sem antes dizer um pouco do eco que se instalou após o primeiro encontro com S. Geraldo. Ele me fez adentrar, de corpo e alma,  no universo de Carlos Gardel, que eu conhecia tão pouco. Somente algumas músicas e praticamente nada de sua biografia.  As descobertas foram muitas. Eu não sabia, por exemplo, que a música Volver que dá título a um dos filmes de Almodóvar é dele, pois no filme ela é interpretada pela cantora Estrella Morente. Além da pesquisa que fui tecendo, outras pessoas engrossaram o caldo. A amiga Juliana me encaminhou a letra e a música El dia que me quiera s, e a mestramiga Naiza me presenteou com o filme de mesmo nome protagonizado pelo próprio Carlos Gardel. Agora, vez ou outra, me pego cantarolando essa música no trânsito, no banho, arrumando a cozinha... Ela passou a fazer parte da minha vida como parece fazer da de Seu Geraldo. VOLVER Solenta adentrou o quarto de seu Geraldo de castanholas em punho. Mesmo sem saber toca